Chego na varanda e sou surpreendido por um céu azul como anil povoado de pipas. Doze, quinze, vinte e três! Perco a conta. Até um OVNI lá no alto refletia sua luz branca cá para baixo antes de ir sumindo.

Parecia os dias que eu julgava perdidos na minha infância quando nos encontrávamos na areia da pracinha para jogar búlica ou conversar sobre os assuntos sérios de gente de 11 anos.

Era um tempo mais lento, isso é inegável. Afinal a era da informação estava presa na caixinha de madeira dos televisores. Hoje ela está em toda parte.

Ainda assim eu olhava bem ali na minha frente para centenas de casinhas que se empilhavam no morro, sobre o telhado de cada uma delas um punhado de adolescentes – e alguns galalaus – agitando as linhas cobertas de cerol na disputa para ver quem continua nos ares.

Os gritos, palavrões e muxoxos atravessavam apenas algumas centenas de metros, mas pareciam atravessar algumas dezenas de anos abrindo uma janela para outra cidade em outro tempo. Mas era só o morro que, mesmo cheio de pequenas antenas de TVs por assinatura e um bocado de pobreza, preservava os ecos de dias que, quem sabe voltarão um dia…