… e ai eu morri!”

O sorriso dela quando dizia “i” era impressionante, mesmo quando encerrava uma hist?ria como aquela. A hist?ria da morte dela.

O dia estava ensolarado, mas fresco gra?as ? brisa de outono e aos borrifos do chafariz pr?ximo onde passarinhos coloridos corriam atr?s do milho atirado por crian?as e bab?s.

Ela estava vestida de preto e tinha o rosto fantasmagoricamente branco, mas fora isso era uma vis?o de juventude e alegria. Ele s? n?o entendia porque sentia um aperto no peito e uma obscuridade esquisita ao seu redor mesmo n?o havendo nuvens no c?u.

Ele queria morrer.

Vai ver a mo?a inventou a tal hist?ria de como ela se matou para mostrar aos outros que realmente estava deprimida para lhe dar alguma li??o, talvez fosse algum tipo de anjo inesperado que diz exatamente o que devia mesmo sem saber.

N?o deu certo. Ele queria morrer.

Para falar a verdade ele nem sabia bem porque queria morrer. Era s? uma id?ia fixa, como quem diz “sou louco para ir ? Europa”. Ele estava louco para morrer.

Sua vida n?o era sem gra?a. Tinha problemas horr?veis como qualquer um afinal parece que todo mundo tem um assassinato na fam?lia, milh?es de d?vidas, casou com a pessoa errada, tem uma doen?a cruel, s? recebe desprezo dos filhos, trai??es dos amigos ou azares da vida. Alguns tem todas essas coisas. Nem todos se encantam pela morte.

As pessoas tem rea??es diferentes… Algumas viram manequins incapazes de lembrar al?m da ?ltima noitada, umas viram fan?ticas euf?ricas, outras se enrigecem e deixam de sentir. Ele tem vontade de morrer.

De morrer…

Ali no meio da pra?a cheia de vida, sentado com uma linda, alegre e p?lida mo?a morta sua mente come?a a divagar a respeito das formas de morrer logo, depois em raz?es para morrer logo.

?… Sabedoria popular uma ova! Muitas vezes a esperan?a morre muito antes das possibilidades de mudan?a. Quem disse que a voz do povo ? a voz de Deus?

No caso dele n?o se trata de desesperan?a, ele n?o tem olhos para isso, ? que sua vida n?o parece fazer muito sentido vivo e talvez fa?a algum sentido depois do mart?rio. Como todos aqueles santos e Jesus Cristo.

Ele tem que morrer para mostrar para eles!! N?o foi a mesma coisa que a mo?a disse? Estranho…

Mais estranho ? pensar que ele est? cheio de id?ias, possibilidades, sonhos e projetos que jamais realizar? porque nada nele parece ter mais valor do que dar uma li??o para eles e mostrar que h? mais na vida do que eles pensam! E vai ver que eles nem s?o capazes de pensar em tudo isso.

Uma bola rola diante dele, ? vermelha e laranja. Um cachorro passa atr?s dela e logo depois uma menina aos trope?os rindo e dizendo “N?o deixa cair no lago, Pepita!!!”

Pipoca. Ele tem vontade de comer pipoca.

Vira-se para perguntar ? mo?a morta se ela aceita um saquinho, mas ela j? n?o est? mais l? e ele nem a viu sair. Bem, n?o a tinha visto chegar tamb?m.

Levantou-se e foi buscar uma pipoca, talvez desse um pulo no cinema depois e ligasse para o…