Fina, sua pele é impossivelmente fina e pálida, mesmo ao meio dia ela parece arrastar a névoa gelada e sombria das noites sem cor.

Agora é noite.

Não é tarde, mas para ele o relógio sempre marca meia noite.

Do mundo além da sua janela vem as vozes ruidosas de pessoas conversando, discutindo ou talvez falando coisas sem qualquer conteúdo esperando a vida passar e acabar.

Ela sonha. O mundo de ideias que desfila em sua mente é vasto e repleto de amigos de coração e alma puros em quem se pode confiar cegamente. Em seus desejos nem tão secretos, a humanidade é livre para se abraçar sem ter que se preocupar com os problemas cotidianos que não passam de enredo para as histórias nos livros, cinemas e teatros.

Mas o mundo não é assim. Nem o dela, nem o nosso.

A sombra está lá fora mesmo quando é meia noite.

Os jovens que correm animados pela rua depois do colégio, tem colegas perversos, pais que se afogam em vícios ou preconceitos.

As pessoas adultas que galgam suas carreiras profissionais se sentem amarradas pelos políticos gananciosos, pelos colegas e chefes maquiavélicos.

Será ela, a nossa filha da lua do começo desse texto, que carrega uma névoa de escuridão ao seu redor ou somos nós que permitimos que o mal exista e fingimos não vê-lo indo ao cinema ou escancarando os dentes na companhia de amigos tão cegos quanto nós?

Enquanto isso filhos e filhas da lua sentam em suas janelas sempre noturnas, sob o banho lívido da lua, abaixam suas cabeças, encolhem-se e choram silenciosamente o mundo que só alcançamos em fantasia.