A garoa fina e o tempo fresco não fertilizam o asfalto das ruas ou o concreto dos edifícios, mas encontram solo sedento em nossos ombros e nos pelos dos braços nus enquanto caminhamos entre os jardins do Museu da República onde dezenas de editoras expõe a Primavera dos Livros.

Livros! Em quantas bienais e feiras de livros não me perdi nos últimos 30 anos? Nos tempos em que nossos amigos eram limitados aos do prédio, do clube, da rua ou do colégio? Hoje outros tantos se juntam a uma interminável lista: do blog, do Orkut, @s…

“Será que vou encontrar @s amigas?”

Mal terminei de pensar isso e lá estavam @prill e @maffalda com um anjo sem arroba prontos para tomar um café antes da orgia de letras.

Uma puxa uma cadeira antes que os rapazes do grupo possam exercitar seu cavalheirismo anacrônico, lembramos dos devaneios lisérgicos da semana que passou no Twitter, dos papos sociológicos em manhãs digitais, do sabor do café com adoçante, açúcar ou puro, de ser totalmente do contra e ser contra ser do contra. Lembro de décadas passadas quando a TV dava medo; agora é a Internet, mas também já foram as revistinhas em quadrinhos (eu tinha mais de mil).

“Posso tirar as chícaras?” – É, acho que estão querendo que liberemos a mesa… Quanto é? Ops, as moças já pagaram… Então vamos aos livros, mas sem uma vodca antes? Como se chama mesmo aquela garrafinha metálica para bebida? É, vamos sem vodca mesmo…

Filosofia, história, sociologia, perversão, a mente criminosa, cibercultura, geopolítica, bastante literatura infantil, o garoto ostra… É impressão minha ou a concentração de livros bons aumentou muito desde a antepenúltima (pulei uns 2 anos) feira?

Me perco fotografando capas enquanto espero minha @ esposa sair de uma palestra de tradução. De lá ela envia um torpedo

“Não está entrando o Twitter: traduzimos porque temos um projeto para o país”

Realmente, bela frase! Temos que manter os olhos no futuro pois o passado já foi. Não repassei para o mundo na hora, mas ai está agora a mensagem do palestrante.

Com o celular pesado de fotos de livros vamos ao encontro dos outros logo ali no barzinho na esquina, e que feijão amigo! Uma verdadeira bacia! E muitas histórias vexaminosas, reflexões do ensino ao aprender, do conectado ao desconectado e o ensurdecedor fluxo de informações que precisamos aprender a controlar.

As despedidas sempre são a pior parte, afinal o toque digital, pode ser porque sou de outro milênio, nos enche de saudade do calor da presença… Muito embora a presença seja muito mais quente depois da troca digital, disso não há dúvida.