Esse blog tem mais de 2 mil posts. Nunca a ansiedade esteve no título por um motivo muito claro: eu mal sabia o que era isso.

Ah! Esse post fala das dificuldades emocionais de lidar com a pandemia da covid-19. Se você não tem dado conta dessa ansiedade e precisa se informar para se manter em segurança sugiro a página antiansiedade sobre a covid-19 que tenho procurando manter atualizada.

Claro que tinha momentos de ansiedade e até gostava deles porque achava que ansiedade era aquela sensação de expectativa antes das coisas acontecerem.

Ah! Tinha a ansiedade dos exames de faixa do Taekwondo! Tinha esquecido disso! O que é curioso porque eu era uma pessoa que lidava com muita tranquilidade com quase tudo, menos com os exames de faixa do Taekwondo, que na realidade não tinham nenhuma importância objetiva para a minha vida.

E agora percebo por que estou escrevendo sobre ansiedade pela primeira vez nesse blog: é por você e não só por mim.

Tive minha parcela de transformações importantes de vida. Já tive que sair de um ambiente tóxico onde morava ainda adolescente, já fui assaltado à mão armada algumas vezes, já fui perseguido por outro carro em uma estrada abandonada, já tive uma doença que desfigurou meu rosto (herpes-zóster) um mês antes de uma viagem importante para outro continente… A lista é grande como a sua certamente, mas ao contrário de muita gente nunca sofri de ansiedade nessas situações.

Só nos exames de faixa do Taekwondo!

Somente hoje, mais de 10 anos depois, percebo porque: era importante para mim corresponder às expectativas daquelas pessoas. Eu as respeitava, principalmente o Mestre Renato da Academia Kim. Ficava ansioso a ponto de não conseguir fazer o que fazia todo dia na academia.

Claro que nem toda ansiedade vem de uma necessidade patológica de atender às expectativas dos outros, mas era a única que me atingia e não era quaisquer outros.

Acontece que esses momentos de ansiedade aconteciam a cada seis meses ou até mais e agora, desde a metade do primeiro ano de pandemia, a ansiedade passou a me assolar diariamente e não só a que vem do medo de não corresponder a expectativas.

Mas vou falar dessa ansiedade primeiro e depois falo da “ansiedade da pandemia” (os alemães devem ter criado uma “palavra” para isso).

Em plena pandemia saí fazendo obra na varanda do apartamento porque não queria lidar com a ansiedade de lidar com a suspeita do vizinho de baixo de que a infiltração dele era da nossa varanda (tenho 80% de certeza que não é). Coloquei cobertura, troquei piso da varanda e da sala. Felizmente é no andar de baixo do apartamento e pudemos isolá-lo para diminuir os riscos com a movimentação lá embaixo. Deu certo: ninguém pegou covid-19, mas era um risco ao qual não precisávamos nos expor, né?

Em tempo: Me certifiquei que os pedreiros tinham que trabalhar de qualquer jeito no período porque o governo não está cuidando da população para que ela possa se isolar. Achamos até melhor que eles trabalhassem aqui, onde só vamos até a portaria do prédio pegar encomendas, do que em algum lugar onde as pessoas frequentem festas clandestinas.

Agora, quando chove, em vez de ansiedade sinto tranquilidade, mas nunca precisei fazer coisas externas para lidar com a ansiedade e, mais do que isso, não é esse tipo de ansiedade que sinto todo dia. Mais de uma vez por dia.

Sabe, eu medito desde os 11 anos de idade (família tóxica, lembra? foi meu jeito de lidar com aquilo e talvez uma das coisas que me concedeu décadas de tranquilidade na maioria das situações críticas) e essa prática é a única ferramenta que tenho achado para lidar realmente com essa angústia diária, sim, porque assim como um dia descobri que enxaqueca não era uma dor de cabeça forte, em 2020 descobri que o que eu pensava que era ansiedade era outra coisa, bem menos intensa.

A restrição de deslocamento e interação com as pessoas não é o que dispara as crises diárias porque sempre precisei pouco de deslocamento e interação. Tão pouco é a irritação com as pessoas mergulhadas em uma irrealidade que nega a pandemia ou que aceita que é mais importante manter “a economia” que 300, 500 mil vidas.

O que dispara a sequência de ansiedade e angústia diariamente é a falta de perspectiva, a sensação de que ainda não chegamos na metade da pandemia e que nada será feito para lidar com ela, pelo contrário, que esse é um tipo de apocalipse premeditadamente orquestrado que teremos que aceitar. É o medo de usarem isso para dizer que a democracia é frágil demais e que apenas um sistema totalitário, cruel e sem liberdade pode controlar emergências como essa, o que sabemos que é mentira, mas isso só aumenta a ansiedade e a angústia já que, por mais que tenhamos a liberdade da voz online e de escrever posts como esse, nossa voz não tem condições de concorrer com os vastos investimentos e redes de desinformação por WhatsApp numa sociedade em cativeiro online.

Muitas pessoas ao redor, que respeito e admiro inclusive por essa atitude, se empenham bravamente em se fazer ouvir ou pelo menos espalhar suas vozes em podcasts, Redes, vídeos etc. No entanto fazemos isso há décadas e ainda assim foi possível instaurar uma distopia…

É aí que acordo percebendo que essa é uma visão distorcida da realidade, que a distopia está convivendo com utopias, que ela pode ser um tipo de catalisador de transformações necessárias… Só que todo dia 4 mil pessoas morrem, talvez 80 mil ou mais sejam atingidas direta ou indiretamente pela dor e pela perda dessas pessoas e não tem como lidar com isso, não tem o que eu possa fazer por fora para mudar essa realidade e me parece fútil e egoísta tentar não me importar, aliás, também é covardia.

Olho, então, para outras ferramentas que acumulei e lembro das críticas ao budismo: a dor não precisa ser vivida com sofrimento ou, melhor dizendo, a dor não precisa nos levar ao desespero, à ansiedade, à angústia. O Taoismo nos mostra outra forma de lidar com o “mal” vendo-o como parte da nossa experiência de vida, parte da nossa história e que cabe a nós o que ele se tornará. Como uma fábula de terror que pode nos deixar com medo ou nos preparar para lidar com o medo.

Esse post se perdeu? Ansiedade também tem esse efeito de nos deixar mal concatenados, ricocheteando pelas paredes como as esferas do pinball.

Mudei o título de “Ansiedade” para “Ansiedade Ontem e Agora” porque ele se tornou um relato das minhas ansiedades, a gênese que me transformou em uma pessoa, hoje, ansiosa, sem nunca ter sido antes.

Tenho consciência de que é uma situação que pode se tornar crônica mesmo tendo ferramentas para transformar esse “veneno” como uma Bene Gesserit… Não é um bom exemplo… Apesar da crítica ao budismo talvez seja no Buda, Sidarta Gautama, que tenhamos um modelo melhor a seguir, enfim, mesmo com recursos estamos todas sob o risco de contrair traumas e isso também dá uma angústia, né?

Resta tentar fazer o melhor por quem está por perto, como tenho feito com algumas pessoas por DM nas redes e como espero que esse post possa fazer por alguém.

São tempos violentos fora de nós, mas sempre há caminhos para fazer a transmutação do caos exterior em conhecimento, experiência, sabedoria e até esperança dentro de nós.

Espero que esse post ajude um pouco! Espero escrever outro falando mais objetivamente sobre ansiedade ou, pelo menos, encontrar outros que já tenham falado sobre isso para linkar aqui!

Estamos juntos… Ubuntu…

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