Direto ao ponto: Me parece que o espetáculo do futebol já não é mais o suficiente para alienar a nação…

Ainda vemos muita gente dizendo que “o gigante dormiu de novo”, “gritou não vai ter copa e agora faz álbum com as seleções” ou “Se importa com o Neymar, mas não liga para os mortos pelo viaduto que desabou”, no entanto tenho visto muita gente que torce por futebol, que coleciona figurinhas ou está sem unhas de tanto roê-las pelo Neymar, mas que escrevem textos como o do Cassano observando que a seleção está jogando POR nós e não Para nós e, de certa forma nos convidando a viver a cidadania como se fôssemos a seleção e a democracia o título da Copa. Tem também um texto unindo a dor do Neymar e nossa apreensão com o desfecho da Copa à do dos professores e o futuro da educação no país.

Esses são exemplos, mas em toda parte vejo gente sabendo separar muito bem a alegria com as vitórias dos jogadores e a preocupação com coisas muito mais importantes que o legado da Copa (que pelo jeito não virá) como saúde, educação, reforma política, justiça…

Pode ser uma impressão minha já que não tenho acesso a estatísticas ou a uma ferramenta capaz de apontar que o “efeito alienante” da Copa foi X% menor que a mídia das ultimas, mas apresento como evidência o empenho significativamente menor em enfeitar ruas, os papos que escutamos ao passar diante de bares ou pegar o transporte público, a tolerância popular com as diversas greves que despontam pelo país.

Talvez essa Copa das Copas venha a ser vista no futuro não apenas como um grande espetáculo do futebol, mas também um dos marcos do amadurecimento da cidadania brasileira ou não (afinal todo país tem seu espetáculo alienante).

Além de vir observando que ela não está fazendo o efeito alienante que muitos temiam tenho observado outras coisas.

Passei os últimos meses dizendo que não acreditava em mega-manifestações durante a Copa por achar que os cidadãos se afastariam das ruas enquanto ficasse claro que os governos não ouviriam e recorreriam à violência para impedir qualquer perturbação à festa e acertei até certo ponto.

No entanto estou percebendo outra coisa… As próprias manifestações que tem ocorrido com mil a três mil pessoas estão evitando áreas que incomodem os visitantes e se dissipando praticamente sem reação às agressões do Estado que continuam acontecendo. Eu realmente não esperava que isso acontecesse.

Sei que estou assumindo muitas coisas sem apresentar evidências aqui, como disse é difícil reuni-las então estou me apoiando bastante na minha intuição e por isso estou escrevendo aqui e não no Meme de Carbono onde procuro ser mais acadêmico (não que consiga sempre).

Estamos no meio do furacão da história. De vez em quando o olho da tempestade passa por nós e tudo parece calmo, mas voltando nossos binóculos para as ruas vemos coisas que não chegam a chamar a atenção da mídia de massa, mas estão acontecendo.

Vou confessar que não estou vendo qual será o próximo passo que a coletividade brasileira e Global dará, mas o que eu vejo ao nosso redor é que as pessoas provaram de uma liberdade diferente: além de poder falar nós sentimos o sabor de sermos escutados, a presidente do país foi à TV nos acalmar, ditaduras caíram ao redor do mundo (não importa que tenham subido outras, o que conta é que deu certo e dará de novo.) e depois que as pessoas provam e gostam é muito difícil tirar delas…

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Cena do filme V de Vingança: a população tira suas máscaras de Guy Falkes para ver a explosão do senado. Fonte – Material promocional