Imagem: Paul Dufour
Lá estou eu na fila do banco.
Em vez de meditar ou ler, sou levado pelos rios do acaso a conversar com um senhor de 92 anos.
Entre uns papos e outros fico sabendo que ele foi o diretor de compras de uma grande empresa pública por 10 anos no período militar (decidi não dizer o nome).
Era cheio de milico em tudo que é posto durante as décadas de ditadura.
Assim que ele assumiu a posição, substituindo outro militar que, parece, levava umas graninhas, ele foi abordado por um fornecedor dizendo que 10% era de comissão, depois outro e ainda outro.
Organizado, ele anotou tudo e, nas próximas compras, exigiu 10% de desconto (certamente poderia ter pedido muito mais pois a comissão certamente era para superfaturar, né?)
Algum tempo passou e chegou aos ouvidos dele que era o único que não aceitava comissão.
Imagino que ele tenha combatido o superfaturamento também porque, já que dinheiro não funcionava, começaram a mandar mulheres lindas com saias sumaríssimas para negociar com ele.
Não deu certo. O sujeito pelo jeito era honesto mesmo.
Passaram a mandar homens gays… Vai que o problema era que o comprador não gostava de mulheres?
Moral da história: tem muito corrupto por aí, mas a gente não pode esquecer que, algumas vezes… talvez muitíssimas vezes, o problema é o corruptor e o sistema construído para favorecer a corrupção (nunca cansarei de sugerir a leitura de Sociedade do Espetáculo do Guy Debord)