– Alô?

– Ah! Meu amigo! Estou me sentindo tão sozinha…

Do outro lado da linha uma das mulheres mais inteligentes e cultas que tive o prazer de conhecer. Amiga querida, brilhante e admirada incondicionalmente. Sozinha…

A política de Lula, a intrincada rede que forma a moderna estrutura de poder, produção e força de trabalho, o comportamento artificial que a maioria de nós tem nos esforços de fazer o outro aceitar o que gostamos de pensar que somos e o esgotamento do modelo capitalista devorador de recursos… Por quase duas horas vagamos em acalorada discussão.

Desligo o telefone e encaro o vazio branco da parede… No final estamos todos presos aos nossos modelos de vida: os capitalistas, cegos, exploram inconsequentemente; os sindicalistas (sonhando secretamente com a opulência capitalista) permanecem hipnotizados pelo fim dos tempos, ilusório ou talvez não; nós, os insurgentes compulsivos rejeitamos qualquer chão procurando eco no Demian de Herman Hesse. A vida entretanto, temo admitir, é muito mais simples… É procurar ter os recursos básicos para viver enquanto o destino tece a tapeçaria da evolução apesar dos nós nas linhas…