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Imagem ilustrativa: Tirinhas da turma da Página Pirata

O Conto

Toca o sinal! Acabou a aula! Marcos mora a somente 10 quarteirões do colégio particular de classe média administrado por freiras e vai para casa à pé pensando na vida, no seriado que verá quando chegar em casa… bem, depois de fazer os deveres, né?

Ele mora sozinho… Na verdade mora com os pais, só que os dois trabalham muito. O pai sai cedo e chega tarde, a mãe é professora e não trabalha todo dia, mas nos dias que trabalha também mal aparece.

Há um ano teve uma reunião de família só deles três, Marcos, Teresa e Luciano em que seu pais disseram:

“Filho, percebemos que, com oito anos, você já sabe se cuidar muito bem, decidimos lhe dar essa chave, esse celular e você poderá voltar do colégio sozinho e cuidar do seu almoço quando sua mãe não estiver em casa”.

Com isso eles puderam poupar nos gastos com a empregada e juntar dinheiro para a família viajar mais. Uma vez por semana ainda vem uma diarista dar uma geral no apartamento.

Marcos até hoje não decidiu se isso foi bom ou ruim. Por um lado o reconheceram como adulto e isso era legal, por outro ele passou a ter novas tarefas como arrumar sua cama e esquentar a própria comida (algumas vezes tinha que fazer a comida toda porque os pais não deixaram nada pronto). Ele tem certeza que adultos não precisam arrumar a própria cama e, quando estão com preguiça, podem ir ao barzinho na esquina comprar seu almoço e nem os pratos precisam lavar.

São tempos perigosos. Todo mundo no colégio já foi assaltado alguma vez, pelo menos os que andam sozinhos pela rua. Só o Julian nunca deve ter sido assaltado já que sai direto para o carro com motorista e dois seguranças que esperam por ele na porta da escola todo dia. Julian é o típico babaca. Não é por ser riquinho, é por se achar melhor que todo mundo. Ele tem as melhores notas, é campeão de Dota e resolve os games de mistério mais difíceis além de estar sempre lendo algum livro grosso. Ninguém gosta do Julian apesar dele ter uns fãs que ficam como cachorrinhos ao redor dele. Fangirls e fanboys que só estão perto dele porque são idiotas ou querem ganhar alguma vantagem.

Pois então… Marcos sempre volta caminhando com a Gisele, o Julio e a Viviane que é a que mora mais longe, uns dois quarteirões depois de onde o Marcos mora.

De vez em quando ele vai com a Viviane até a porta dela, nos dias que a rua parece mais perigosa, com mais multidões de jovens que parecem assaltantes. Felizmente o pior período é nas férias, no final do ano e meio do verão, mas hoje ainda é verão e já tem aulas e os três estão no caminho de suas casas.

– Gente… Tem uma coisa que eu tenho que contar para vocês! Jurem que não vão rir de mim, me achar criança, tá?

Marcos olha para os três amigos esperando resposta… Eles estão rindo

– Claro que não prometo!! Hahahaha! – Viviane é tão queimada de sol que é chamada de chocolate, resultado do surfe que ela pratica quase todo dia.

Gisele salta do skate, pisa na parte traseira dele e segura pela ponta antes de colocar nas costas preso atrás da mochila.

– Marcos, você acha que a gente vai perder a chance de te zoar?

E cutuca o Júlio “Né Júlio?”

– Cara, pior que é! Conta aí, você fez xixi na cama? Porque eu… Quer dizer, é perfeitamente natural fazer isso quando se está muito cansado!

Júlio balança as mãos, as bochechas vão ficando vermelhas e os olhos giram como os de personagens de anime. Parece que ele vai implodir de timidez e os três colegas riem de se dobrar, mas trocam uns olhares de confissão de que cada um deles passou por alguma situação parecida há não muito tempo.

Quem passa vê aquelas crianças bobas rindo paradas numa esquina de Copacabana e pensa como a infância é fácil…

Quando eles conseguem parar de rir o Marcos retoma sua revelação.

– É sério, gente! Tem uma coisa muito estranha acontecendo na minha rua… Olha só, da minha janela dá para ver bem um apartamento térreo dois prédios à esquerda do meu, do outro lado da rua, entenderam? Bem, eu fico na janela espiando a rua de vez em quando e…

Júlio explode em risadas de novo e tem que falar três vezes para os outros entenderam porque ri a cada meia palavra.

– Sei sei… Olhando nada na rua, né? Não é porque nesse prédio tem uma menina de uns 16 anos que dá para ver trocando de roupa?

–É a vez de Marcos implodir de vergonha com medo de olhar para as amigas e ver olhares de reprovação, principalmente porque ele meio que gosta da Gisele. Ele dá um soco no braço do Júlio que diz “Ai” mesmo não tendo doído.

As meninas realmente estão olhando para ele com os olhos apertados e mos nas cinturas, entretanto um observador atento verá em seus olhos o breve reflexo das memórias de terem feito parecido e de pensamentos sobre o ator gato do seriado que elas curtem.

– O lance – Marcos continua tentando fazer de conta que não está nem aí – é que tem esse apartamento com uma varandinha pequena. A porta de madeira da varanda nunca está aberta, nunca sai luz por ela, tem folhas e poeira no chão, uma planta seca, seca, seca, tadinha! Todo mundo acha que é um apartamento abandonado, eu perguntei aos meus pais e porteiros e todo mundo confirmou, mas o porteiro do próprio prédio foi estranhão! Ele disse “não é da sua conta moleque”.

– Tá, Marcos, tem um apartamento vazio na sua rua, isso não é estranho! Pode estar… Em disputa na partilha de bens… Ouvi minha mãe falando nisso outro dia sobre a fazenda de um tio distante que morreu.

– Não é isso Viviane, quer dizer, podia ser, só que ontem eu vi a porta se mexer de noite! Ela nem chegou a abrir, foi como se alguma coisa a empurrasse e puxasse por dentro. Apertei meus olhos para ver melhor e tenho certeza que vi uma luz fraquinha lá, como uma vela, talvez uma luz de outro cômodo que se acendeu e apagou rapidamente, ou ainda que tem uma porta que alguém abriu e fechou indo da sala para o cômodo. Será que alguém está escondido lá? Que invadiram o apartamento? Que sequestraram alguém e estão escondendo lá? Será que o porteiro sabe?

– Seré que é um monstro de outra dimensão?

Todos olham para o Júlio com cara de “what the fuck?”, mas a verdade é que, boa parte da imaginação de cada um deles, acha a ideia perfeitamente plausível.

– Se fosse um monstro não teria que ter algum sinal? Tipo aves estranhas pousando na varanda, árvores em frente ao apartamento morrendo do nada? – Viviane adora filmes de terror.

– E se for um monstro a gente precisa investigar porque monstros nunca ficam quietos no canto deles, né? – Júlio fica animado vendo que os amigos compraram a fantasia dele.

É claro que todos eles sabem que monstros não existem, ou dizem que sabem para não os acharem muito crianças, mas em primeiro lugar eles não tem certeza disso e depois que é muito mais divertido acreditar em monstros.

Gisele toma a iniciativa, ela é a com mais tendência a líder.

– Beleza! Essa semana todos nós estudamos na casa do Marcos, então! E assim podemos nos revezar vigiando o apartamento do monstro! E tenho uma ideia! Podemos ligar para algum lugar e mandar entregar alguma coisa no apartamento e ver o que acontece! Marcos, você tem que fazer uma lista de entregadores que vão nesse prédio, assim o porteiro não vai achar estranho! Eu não sou um gênio?

– Pior que é Carneirinho! – Os cabelos encaracolados que parecem uma juba ao redor do rosto da Gisele lhe renderam o apelido – Vou falar com meus pais que a gente resolveu estudar em grupo essa semana, vou dizer que quatro pessoas aprendem juntas mais do que uma sozinha. Se bem que minha mãe só fica em casa atualmente terças e quintas de manhã então nem precisaria avisar, mas sei lá, né? Vamos começar amanhã? Será que dá?

– Dá!

– Tô dentro!

– Formô!!

Ao chegar em casa Marcos arrasta a mesa para uma posição mais estratégica sob a janela e fica estudando com um olho nos cadernos e outro no prédio. A cada entregador que aparece ele anota a loja e, quando dá, o telefone. Tem pizzaria, restaurante, mercado, o mercadinho próximo e uma mulher jovem que chama a atenção dele. Ela chega falando no celular, toca o interfone para chamar o porteiro e, pelos movimentos, parece que ela esqueceu a chave, mas Marcos tem certeza que ela olhou várias vezes para o apartamento enquanto falava com o porteiro, como quem fala sobre uma coisa e olha para ela inconscientemente.

Depois que a moça entra Marcos não consegue se concentrar em mais nada! Amanhã o Júlio vai levar um binóculo que a mãe dele tem para observar aves, mas hoje ele só tem os próprios olhos que ele fixa tanto no apartamento que chegam a lacrimejar! Ainda é dia então não daria para ver nenhuma luz no apartamento, mas ele tem a esperança de ver algum breve movimento na porta da varanda.

Se a mulher for moradora Marcos vai criar teias ali na janela, mas ele persiste por duas horas até que ela sai novamente com uma expressão um pouco preocupada, mas ele nota que a bolsa dela parece mais vazia, e ela não levava duas bolsas quando entrou, quer dizer, uma bolsa e uma sacola? Será que ela leva crianças em pedaços para o monstro comer? E ele ri decidindo não compartilhar essa teoria com os amigos, principalmente as meninas, para não assustá-los.

No dia seguinte seguem todos da escola para a casa do Marcos. Ao chegar todos jogam as mochilas no sofá, Gisele pega o tablet e pergunta se tem wifi “a gente pode ter que pesquisar por tipos de monstros, né?”

– Tem sim, Carneirinho, anota aí a rede é Shatrat e a senha é persefone. É que meus pais jogam WoW e meu pai adora mitologia grega… Quer dizer, eles jogavam muito… Agora quase não tem tempo.

– Seus pais são maneiros…

Os três amigos olham para os quadros nerds na parede demonstrando aprovação.

– Bem, aqui está o binóculo, eu disse que era para observar estrelas e minha mãe ficou toda animada, mas falou para tomar muito cuidado com ele que é caro. Você já tem uma coisa para pesquisar aí, Gi, que estrelas a gente pode observar hoje para eu ter uma história para contar para a minha mãe, né?

– Vou ver se a Estação Espacial Internacional vai passar hoje, aquela que tem o astronauta cantando e a cientista com os cabelos todos para cima, que horror, né? E eu desesperada com meus dias de cabelo sentimental.

Marcos conta a história da mulher para os amigos e decidem que não vão agir imediatamente, que vão pensar no melhor plano e observar o apartamento por pelo menos uns três dias. Todos ficam satisfeitos com sua enorme paciência e disposição de passar tanto tempo espionando o lugar.

Enquanto um observa os outros se revezam entre estudar, jogar, fazer lanche, ver TV e conversar. O papo não gira sempre em torno do monstro, mas volta a ele de tempos em tempos. Será a mulher uma bruxa? De acordo com o Marcos ela é adulta, mas jovem. Na verdade ela tem apenas 24 anos, mas a diferença entre 24, 34 e 44 para quem tem 9 é muito sutil.

Eles observam cada entrega que acontece no prédio e começam melhorar o plano. Um deles irá para a rua quando o entregador chegar, esperará até ele sair… Se sair, afinal o monstro pode devorá-lo! E depois vai abordá-lo perguntando “Você entregou na casa do meu tio?” para ver o que eles podem descobrir.

Quando o Júlio falou que o entregador poderia ser devorado o Marcos, sem querer, começou a contar sua teoria dos bebês em pedaços na sacola que entrou e não saiu com a mulher misteriosa.

Para sua surpresa as meninas acharam um barato, mais o Júlio arregalou os olhos, mordeu os lábios e ficou tão gago que desistiu de falar. Tá a Viviane, que gosta de terror, surfa e vai para praias misteriosas com os pais até que faz sentido ser corajosa, mas ele se surpreendeu com a coragem da Gi e com o medo do Júlio.

– Júlio, seu cagão!! Não envergonha a gente na frente das meninas! Quer que eu peça umas fraldas na farmácia?

– Eu sou cagão é? Quero ver se algum de vocês teria coragem de ir lá bater na porta do monstro!!

Todos estavam rindo e Júlio realmente estava magoado, mas a proposta fez todos se calarem e, triunfante, Júlio se sentiu um pouco melhor.

Os quatro se entreolharam sérios, os olhos magoados do Júlio podem ter colaborado bastante, afinal os amigos não queriam machucá-lo de verdade. Marcos se levanta e estica o braço.

– Vamos fazer um pacto! Ninguém vai sozinho no esconderijo do monstro, ninguém deixa os outros para trás se o monstro vier nos perseguir! Coloquem a mão em cima da minha!

Os três amigos se juntam a ele determinados e com sorrisos animados de quem mergulha na aventura até que Viviane, a Chocolate, se toca…

– Se o monstro vier nos perseguir?? Será que ele está olhando de lá para nós?

– Que nada! – Gisele, a planejadora é quem mais está consciente dos limites da fantasia e da realidade na brincadeira – A gente sabe que provavelmente o monstro é só um velho decrépito que não se mexe mais e fica numa cama o dia todo esperando a mulher vir cuidar dele ou tem alguma enfermeira lá com ele.

Todos aproveitam a nova onda de hipóteses para espantar o medo do monstro.

– Pode ser que a mulher seja uma louca por gatos que tem 70 bichos mudos lá dentro e, de tempos em tempos, ela vem deixar ração para eles! – A hipótese do Marcos causa risadas: gatos mudos!

– Não! Não! É o filho deformado da mulher que ela esconde ali porque o pai, os avós e todos que o veem morrem na hora de susto e só ela consegue olhar para o filho e não morrer! – Quem diria que Júlio seria criativo assim?

– A mulher é uma escultora famosa que está fazendo a maior obra de arte de todos os tempos escondida ali naquele apartamento que ela comprou pouco antes de eu ver a movimentação dela arrumando as coisas. – Marcos acha sua teoria perfeita!

– Famosa que ninguém nunca viu? Só se ela for o Banksy! – Só a Gisele para conhecer esses artistas esquisitos

– Banksy? – perguntam todos

– Nossa, como vocês são ignorantes! É um artista inglês que picha muros e ninguém sabe quem é!

– De onde você tirou isso, Carneirinho? – A Viviane olha para ela desconfiada, as duas andam sempre juntas e ela nunca soube da amiga ser especialista em arte.

– Errr… Bem… Eu aprendi esses dias… Apareceu esse desenho lindo de uma menina soltando um balão e perguntei ao meu pai o que era e ele me contou.

– Eu gosto mais da teoria do monstro…

Júlio diz isso com a voz falhando de medo ao dizer “mons” e todos caem juntos na gargalhada até ficarem sem ar.

Eles decidem que três dias é muito tempo, que não vão aguentar a expectativa e resolvem agir na tarde seguinte com o plano da Gisele de mandar um entregador lá, mas antes eles precisam descobrir o número do apartamento. Será cento e alguma coisa, com certeza. Um, dois, três ou quatro já que o prédio parece ter quatro apartamentos por andar, se bem que é antigo às vezes eles tem apenas dois apartamentos no primeiro andar.

Algum deles terá que ir lá com alguma história para tentar descobrir a numeração.

Obedecendo o pacto eles decidem que tem que ser dois deles, um menino e uma menina. Não pode ser o Marcos porque o porteiro já o conhece, então restam o Júlio, a Gisele e a Viviane. O Júlio fica cada vez mais branco conforme eles planejam quem vai. É a Gisele que se toca.

– Eu acho que tem que ser eu e a Chocolate. O Júlio é o que corre mais rápido de todos nós e, se tivermos que fugir e pedir ajuda, é melhor ele sair correndo daqui do que de lá, do lado do monstro, tendo que passar pelo porteiro… A gente pode levar o seu celular, Marcos, e avisar por mensagem passo a passo o que tá rolando. Se a gente parar de dar notícias aí o Júlio vai atrás de ajuda e você vai nos salvar, tá?

– Levar meu celular! Vocês vão ver minhas mensagens privadas!!!!

– De ter que salvar a gente do monstro você não tem medo, né Marcos? Me dá esse celular aqui, deixa eu ver o que você anda falando!

Eles começam a rir de novo enquanto o Marcos corre pelo apartamento gritando nãoooooooo com a Chocolate atrás dele com os braços esticados para pegá-lo até que ela o derruba e senta sobre ele, os dois rindo junto com os amigos.

– Tá bom, tá bom, por sorte eu sou um gênio em celular e vou sair da minha conta no Facebook e te dar para entrar na sua, você sabe sua senha, Chocolate?

– Não… Só minha mãe tem a minha senha… Tenho do email! Você sabe colocar o Gmail aí? Ele tem chat, né?

– Tem! Pera aí… Sair do FB para vocês não fuxicarem minhas mensagens – e lança um olhar desconfiado e sorridente para as duas – No WhatsApp só tem mensagem dos meus pais… Esse não tem problema… Sair do meu email e entrar no seu… Tá aqui, é só digitar sua senha. A gente acompanha o chat pelo meu computador.

As duas saem decididas em direção ao prédio, tocam o interfone para o 101 e esperam. Sem resposta… Tocam para o 102… Sem resposta também.

– Droga, o plano não está funcionando Vi, nunca saberemos se é o 102 ou o 102.

O 103 responde.

– Alô… Alô…

As duas amigas se empurram em direção ao interfone fazendo gestos para a outra falar até que acabam falando juntas o que as faz ter que segurar para nào cair na gargalhada e sair correndo.

– Oi… senhora, nós somos da associação mirim do bairro estamos fazendo uma pesquisa sobre coleta seletiva de lixo, a senhora separa seu lixo? Sabe se o seu prédio faz coleta?

– Tem uma associação mirim de bairro? Eu não sabia! Olha, sou a diarista e aqui acho que não separam nada não, viu? Pelo menos tem só uma lixeira na cozinha.

Elas sussurram uma para a outra “droga, ela não vai saber dizer sobre os outros apartamentos!”

– Obrigado, senhora, a que horas a gente pode achar os moradores aí? E… A senhora sabe dos outros moradores? Se eles separam lixo?

É a Viviane que fala enquanto a Gisele mostra o dedão para cima aprovando a abordagem.

– Eu faço a faxina no 102 também e eles não separam não, o pessoal do 104 separa porque eu vejo as sacolas deles no lixo, mas no 101 não tem ninguém.

– Yay!!! Descobrimos!!! – As duas gritam juntas!

– O que?

– Nada, senhora, muito obrigada senhora!

O porteiro está vindo lá de dentro e elas saem correndo com medo dele fazer parte do mistério.

Elas contam para os meninos e decidem que o Júlio é quem tem que ligar porque ele é quem sabe fazer a voz mais grossa.

Os quatro escolhem a quitanda. Monstros não devem comer pizza, mas devem pedir coisas estranhas como nabos ou lixas de pé para lixar as unhas.

Quando Marcos fala em lixas de pé para lixar as unhas todos acabam rindo de novo, para eles tudo é muito engraçado, mesmo tendo uma ponta de medo de ser tudo verdade e perigoso.

– Quitanda Funchal, boa tarde.

– Boa tarde, eu gostaria de fazer um pedido

Na verdade a voz grossa do Júlio parece exatamente a de um garoto de nove anos fazendo voz grossa, mas os quatro acham que está bem convincente como voz de dezesseis anos ou mais.

Quando o Júlio dá o endereço a voz do outro lado demora um pouco a responder até que pergunta…

– É para o senhor Kirreng?

O Júlio afasta o telefone e sussurra para os amigos

– Tão perguntando se é pro senhor quirrend?! O que eu digo?? O que eu digo???

Os três se entreolham…

– Diz que é ele, que sua voz não tá boa hoje! – As meninas olham arregaladas para o Marcos condenando a ideia e seguram a boca do Júlio antes que ele fale. Do outro lado da linha escuta-se a voz perguntando novamente

– Diz que é o sobrinho dele!!! Pede o de sempre!! – A ideia é da Viviane e todos dão ok para ela!

Júlio conta que pediram para confirmar o pedido de funcho, nabo branco mino qualquer coisa e outros nomes esquisitos e deram um valor. Agora era esperar. Não devia demorar mais do que uns quinze minutos.

Júlio e Gisele saíram logo para a rua e ficaram no meio do caminho entre a quitanda e o prédio. O Júlio porque corre muito e a Gisele por ter o skate para fugir, mas nenhum deles achava que o monstro sairia na rua para perseguí-los.

Quando o entregador saiu do prédio com a cara meio fechada, mas sem as compras, o Júlio o abordou enquanto a Gisele andava ao redor como se não o conhecesse.

– Oi, moço, você fez a entrega lá na casa do meu tio?

– O velho é seu tio, então? Eu achava que ele era sozinho… Tipo estranho seu tio, viu? Nunca via a cara dele, nem tinha ouvido a voz até hoje. Sempre que chego lá tem um envelope debaixo do tapete com a grana da entrega que deixo lá. Hoje não tinha grana nenhuma então bati na porta. Demorou um tempão até eu notar que alguém estava olhando pelo olho mágico e aí perguntei “o senhor está aí? Sua encomenda”. E ele disse que não tinha pedido nada. Era uma foz rouca e baixa, deu medo do seu tio, viu? Pouco depois ele passou uma nota de cem, de cem! por baixo da porta. Eu disse que não tinha troco e nada… Disse de novo e entendi que era para eu ir embora.

Júlio olhava para o entregador com os olhos arregalados, a Gisele tinha parado do lado e fingia olhar as rodas do skate e, vendo o amigo congelado com cara de embasbacado para o entregador ela se levantou esbarrando nele com força para fazê-lo acordar.

– Ah! É! É! Meu tio é meio esquisito mesmo hehehe – O hehehe foi aquele hehehe nervoso e sem graça, mas deu certo pois o entregador foi embora.

Quando eles se viraram para voltar para o prédio esbarraram com toda a força numa mulher de cabelos loiros e lisos, um casaco bege claro comprido, calças pretas e botas da mesma cor, estranho alguém andar assim no verão do Rio.

Os dois pedem desculpas para ela, perguntam se a machucaram e a mulher os olha com um olhar intrigado.

– Tudo bem, crianças, sou mais resistente que pareço. E vocês estão bem? Aquele entregador estava incomodando vocês?

Do outro lado da rua o Marcos pulava e agitava os braços atrás da janela, seus lábios diziam “É ela! É ela!! A mulher do monstro!!” e a Chocolate saía correndo da portaria em direção aos dois ainda sem um plano para afastá-los da mulher sem despertar suspeitas, aliás mais suspeitas já que a mulher estava atrás dos dois há tempo suficiente para ter percebido que eles espionavam o monstro dela.

Foi o Júlio que notou primeiro e chutou o pé da Carneirinho que logo viu os amigos e colocou o skate no chão pronta para fugir, mas não sem ter certeza que o Júlio escaparia também.

A mulher se abaixa e coloca a mão sobre o ombro dele, é tarde demais… Gisele percebe que, se fugir, o amigo será capturado pela mulher misteriosa. Poucos metros atrás ela vê a Viviane fechar o rosto com determinação e acelerar sua corrida: ela vai se atirar sobre a mulher para libertar o Júlio!

Pelo jeito a Chocolate faz muito barulho correndo pois a mulher se levanta segurando firme a blusa do Júlio e olha para trás incisiva.

– Então são três de vocês? Que tal me contarem o que está acontecendo aqui?

Viviane quase se espatifa no chão ao tentar parar de repente e ficam os três ao redor da mulher sem saber o que dizer, mas não vão deixar o Júlio sozinho com ela. Se não fosse por isso ele já teria feito xixi nas calças e esse é o único pensamento dele enquanto vê no rosto das amigas que elas não o deixarão!

Marcos não sabe o que fazer, vai ligar para a polícia? Que polícia? Tem polícia sobrenatural? Talvez uma de proteção das crianças atacadas por bruxas que criam monstros?

– Não precisam ter medo, eu vi que vocês estavam falando sobre meu avô com o entregador. Ninguém naquele prédio compra coisas dessa quitanda além dele, sabe?

– Seu a-a-avô? – Júlio consegue achar forças para falar

– Mas não é um monstro? – Viviane esquece de pensar antes de dizer alguma coisa

– Você não parece ser neta de monstro… – Já que o mal está feito Gisele decide abrir o jogo

A mulher ri de olhar para cima como quem escutou a piada do elefante escondido na plantação de morangos!

– Monstros? Hahahaha! Não! tenho certeza que, pro meu avô vocês são os monstrinhos da região! Olha, vou soltar, não precisam fugir, tá?

Ela solta o Júlio e senta no meio-fio. É uma rua pequena, pouco frequentada por carros ou pedestres. Os três sentam ao redor dela. Viviane olha para o celular do Marcos que ainda está com ela e vê que está cheio de mensagens dele do tipo “Sai da?!” e “Corre!!!”. Ela responde “bruxa neta do monstro, ela vai contar. Vem”

– Antes me digam que história é essa de monstro?

Os três se revezam contando a história, dizem que sabiam que não devia ser um monstro, mas que era estranho, que podia ser algo perigoso, algo muito ruim. A jovem moça escutou atentamente com um sorriso divertido nos olhos, mas disfarçando no resto do rosto, afinal as crianças estavam fazendo uma baita de uma invasão de privacidade, se bem que certamente a privacidade do avô dela era exagerada.

Ele é um homem muito rico que não confia em ninguém, mas que cuidou da neta desde os cinco anos de idade porque os pais não tinham tempo para ela e agora, com ela já aos 24 e morando sozinha desde os 20, ele só confia nela para cuidar dele. Mas é claro que ela não dirá que o avô é muito rico para as crianças que podem sair espalhando isso pela rua.

– Meu avô não confia em ninguém, sabem? – O Marcos chega a tempo de ouvir o começo da explicação – E… Nossa, quantos vocês são? – Ela pergunta ao vê-lo.

– Estamos todos aqui… Sou o último moça – Marcos prefere ficar de pé, ainda com um certo receio dela lançar tentáculos sobre eles e não dar tempo de levantar e correr.

– Então, meu avô é um homem difícil, é verdade, ele me criou, sabem? E só confia em mim… Ele fica fechado dentro de casa escrevendo, ele é um autor de livros de fantasia que nunca publicou… E eu cuido dele. Venho aqui a cada três dias para deixar dinheiro, ver se ele tem comida, essas coisas… Infelizmente ele não tem amigos como vocês tem e os que teve já partiram faz muito tempo… Eu gostaria de apresentar vocês a ele, uma turminha unida assim lhe faria bem, mas vou fazer uma coisa! Vou mostrar fotos minhas com ele, olha…

Ela pega o celular e mostra desde fotos dela com a idade deles até fotos recentes com o avô que tem olhos profundos, um pouco tristes, mas com uma vitalidade que impressiona, aquele brilho de quem vive intensamente por dentro, que viaja por mundos inimagináveis em sua mente.

– A Senhora…

– Me chama de Beatriz, tá? Senhora não combina comigo!

Realmente a moça era simpática demais para ser chamada de senhora, principalmente sentada ali no meio-fio com eles.

– Tá, Beatriz, você disse que ele escreve?

– Escreve, mas não publica… Hummm… Estou quase convencendo ele a publicar com pseudônimo em formato digital pois assim ele não precisa interagir com ninguém. Tenho certeza que ele vai se animar se algumas crianças gostarem das histórias dele! Vocês querem ler?

Nenhum dos quatro jamais gostou de ler, mas o livro escrito por um monstro? Avô de uma bruxa boa? Sim, porque aquele papo todo não convenceu nenhum deles! Um homem recluso pode muito bem ser um monstro que assume a forma de um homem! E uma mulher que anda de sobretudo, calça comprida e bota no calor do Rio? Só pode ser uma bruxa do gelo!

– É claro que vamos ler!! E não contaremos para ninguém! Será nosso segredo senho… digo, Beatriz! – Júlio parece outra pessoa!

– Olha, nunca contei para ninguém porque tenho vergonha… Mas eu leio um livro todo mês… – Ninguém sabia mesmo do segredo da Chocolate!

Marcos e Gisele olham para os amigos e se entreolham…

– Se eles vão ler nós também vamos – Eles dizem juntos!

E esse verão foi o começo de muitos anos de aventuras muito mais incríveis nas páginas dos mundos mágicos criados pelo velho monstro do 101! [12h45]

Observações

Foi um conto demorado, mas não foi cansativo… Só fisicamente porque mal levantei para esticar as pernas.

Tem muita coisa da minha infância nele, pelo menos em termos de cenário, e receio que não pareça tanto ser no presente por conta disso… Posso ter adotado uma narrativa mais antiga ou expressões que não são usadas hoje.

Inseri o celular na história, mas ele ficou meio sem função porque meu plano para ele não aconteceu.

Também preparei um personagem para entrar na trama, o Júlian, que acabou não acontecendo também. E nem sei se ele se juntaria à turma se eu desenvolvesse melhor o conto futuramente pois ele atrapalharia o clima de intimidade e fidelidade dos amigos.

Há tempos não escrevo um conto com tanta calma, estourei o tempo, mas não corri em nenhum momento, só fui encurtando alguns acontecimentos, como o encontro com a neta, para poder terminar o conto sem estourar demais a meta flexível de terminar até meio dia.

Fiquei muito satisfeito com esse conto, viu? Desconfio que está entre os meus melhores. Os personagens tem profundidade, acho que parecem ter mesmo nove anos (tenho que dar para alguém de 9 anos para ler e dar seu veredito), o suspense é um suspense infantil mesmo e gostei muito da resolução do mistério.

Quero muito desenvolver a história da neta e do avô algum dia. Tem uma qualidade de sentimento entre eles que me toca profundamente… Um idoso cuidando de uma criança de 5 anos e tendo nela, já aos sete ou oito anos, uma das poucas pessoas capazes de entender seu universo…

O Processo Criativo

[7h44]Já venho! Tô tomando banho, tomando um café e comendo alguma coisa ;)

[8h07]Falta só tomar o café, banho e comida já foram, mas vou ver logo o que escreverei hoje!

Para a alegria de umas pessoas que gosto muito (e admiro também) Será Infantil, suspense, realista no presente!

Teve empate entre infantil e jovem e entre futuro e presente, mas como deu realista vou descartar o futuro e, como já foram muitos jovens e tem essas pessoas fantásticas que votam insistentemente em suspense infantil, será infantil :)

É engraçado como eu penso todo dia em histórias, diversos tipos de histórias, anoto algumas, outras não dá porque tem lugares onde não podemos puxar um celular ou tablet para fazer anotações, né? E mesmo assim, com a cabeça cheia de histórias, na hora que vou começar um dos contos do Um Sábado, Um Conto não lembro de nenhuma delas! Geralmente parto totalmente do zero mesmo, ainda que vá pensando em histórias minhas de de outros no meio do caminho.

Infantil será 9 anos, ok? Na verdade até já tem um suspense infantil entre os contos de sábado nessa faixa, mas acho que se dependesse de mim eu escreveria metade infantil e metade jovem ;-) Tá, 45% infantil e 45% jovem :-)

Vamos lá O que será? Menino ou menina? Enfrentará o suspense com outros ou solitariamente?

O primeiro passo é procurar se lembrar de como é ter nove anos, buscar empatia com as crianças de nove anos atuais que são diferentes das de 39 anos atrás.

Me parece que, antes e agora, as amizades das crianças de menos de… onze anos mais ou menos raramente são intensas, se concentram mais nas brincadeiras e exploração do mundo, mas com raríssimas questões existenciais (apesar de ter visto um garoto de 6 e três quartos perguntar para o Neil deGrasse Tyson qual era o sentido da vida… E agora me lembro de uma criança que me perguntou sobre astrofísica quando ela tinha uns 7 e eu uns 12).

Lembrei agora de uma história que passou pela minha cabeça essa semana, mas é scifi… Um grupo de crianças que entra em contato com o sentido do Universo e isso as marca de tal forma que as mantém unidas (ainda que se afastem fisicamente no meio tempo) até a idade adulta quando precisam empreender uma missão.

Gosto muito de histórias com grupos de amigos que estão acima das limitações emocionais, que são mais fieis uns aos outros que aos seus medos e preconceitos e que se mantém juntos apesar das grandes dificuldades e até mesmo de serem feridos pelos outros amigos de alguma forma.

Estou em dúvida entre um suspense individual (que acaba deslizando para o terror, né?) ou em grupo. É que já escrevi suspense infantil em grupo… [8h30]

Bem… Vamos pensando e ver o que surge… Ele tem pais. Será um menino. Gosto de escrever personagens femininas, mas tem um menino na minha cabeça agora e tem mais contos com meninas que com meninos (acho).

Mora na cidade… Tá tendendo a algo mais próximo da minha realidade… Tenho que pensar em jovens de 9 anos modernos… Tenho amigos de 14 que conheci aos nove… Aliás é sempre uma boa ideia ter amigos de todas as idades. Nos ajuda a manter a mente livre :)

Nove anos já não entende bem por que esperar a hora do seriado que gosta de ver pois se acostumou a assistir no Netflix ou similar. Tem preocupações ambientais porque desde a década de 70 acham bonitinho ensinar isso para as crianças, né? Falta a gente aprender a trazer essa prioridade para a idade adulta.

Que tipo de suspense um jovem de 9 anos enfrenta? Quer saber? A primeira coisa que ele faria seria procurar amigos para dividir o suspense… Isso é muito claro… Juntaria os mais espertos (e próximos) da escola com os da rua… Me ocorreu também que uma criança chamaria o mais esperto de todos, mesmo ele sendo um chato e isso é uma boa para explorar o conflito entre lidar com o CDF (que depois passou a ser chamado de nerd e agora… Agora… Mala? Babaca? Tá aí uma coisa que certamente vou poder melhorar se um dia desenvolver melhor esse conto).

Ok? Temos um suspense descoberto por um garoto que vai atrás dos amigos em busca de ajuda para resolvê-lo e um deles vai sugerir convidar o mala babaca da escola ou da rua… Acho que vai ser da escola.

Qual é o suspense? Que tipo de suspense aparece na vida de pequenas pessoas de 9 anos de idade?

Lembro que, mais ou menos nessa idade, inventei de brincar de detetive. Colocava um agasalho cheio de bolsos (no Rio de Janeiro… Imagine…) levava um bloco e caneta e saia anotando coisas estranhas como placas de carro que nunca vi parados ali. Na verdade só lembro disso :) mas certamente anotava tudo que achava que podia não ser comum.

Vou pensar por uns minutos… Deixar a mente encontrar mais memórias e devaneios… [8h44]

[8h48] Estava pensando em ser a descoberta de um caso de um dos pais, só que dificilmente uma criança buscaria ajuda de amigos para isso. Tem que ser um suspense de interesse geral… Um apartamento com movimentações estranhas. Isso pode funcionar muito bem nessas ruas secundárias e silenciosas com prédios pequenos com varanda ou apartamentos baixos sem privacidade.

Passei minha infância no Bairro Peixoto em Copacabana que é assim e essa é a imagem que me persegue desde que comecei a pensar no conto. Lá tem também uma praça onde os heróis podem se reunir para conversar sobre o suspense.

Tem que ser uma coisa real mesmo que eles fantasiem explicações fantásticas durante a investigação.

Tô quase lá. Posso até começar a escrever sem saber qual é o suspense e confiar que a minha imaginação vai chegar a ele, mas aí não consigo compartilhar com vocês o processo de bolar o suspense então vamos a ele.

A imaginação da gente é curiosa… Parece um aquário muito sujo. A gente vê umas formas indistintas nadando para um lado e para o outro, ideias… Tudo dentro da nossa mente então uma parte de nós sabe exatamente o que é cada vulto, mas nosso consciente não recebe tudo.

Desde o início do conto tem alguns desses vultos atravessando o aquário turvo da minha mente… Tenho que tentar focar alguns deles e identificar o que são… Traficantes? Violência doméstica? Filhos que mataram os pais? Ladrões de banco, aliás um ladrão de banco? Um apartamento vazio que não está mesmo vazio? Esse é bom… Uma pessoa tão reclusa que ninguém percebe que ela está lá. A porta da varanda sempre fechada, sem luzes de noite, só entregadores de mercado sabem que alguém mora ali, mas deixam as compras na porta e pegam o dinheiro debaixo do tapete… Como essa pessoa obteria grana?

Outro dia pensei em alguém que teria comprado dois apartamentos, um em cima do outro, e juntou os dois sem ninguém saber. Para todos o de baixo está vazio, mas alguém mora ali recluso. Isso poderia explicar como o recluso teria grana em espécie. A pessoa de cima forneceria… Mas isso não tá legal… Serve para outra história, não para essa.

O recluso tem alguém que ele permite entrar na sua vida, uma neta que tem acesso a tudo dele, é a única pessoa no mundo em quem ele confia, a neta de… 24 anos. Ela mesma teria uma história de suspense com ele 15 anos antes quando conquistou sua confiança…

[9h03] Raios! Momento de dúvida profunda! A história desses dois veio muito mais vívida do que a do garoto… Que coisa essa minha facilidade em pensar em histórias com mulheres!!! Tem carinho, emoção, empatia… Tudo que é essencial em uma grande história nesses dois…

O ideal seria eu abandonar a ideia anterior e mergulhar nessa pois em 3h não consigo contar as duas juntas (mas acho que vou acabar tentando…) e sei que ela fluiria muito melhor, mas vou me forçar a ficar com o garoto… Será que em vez de ter facilidade em escrever mulheres tenho dificuldades em escrever homens? Será um sinal de que não sou bem resolvido comigo mesmo como penso que sou? Escrever é uma jornada de auto conhecimento…

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