O Brasil mergulha cada vez mais profundamente na pandemia da covid-19. Entre 14 e 20 de dezembro morreram mais pessoas entre os 212 milhões de brasileiros que em toda a epidemia em 63 países somando mais de 600 milhões de habitantes. Muitos de nós tem mais amigues doentes agora do que em qualquer outro momento até agora.
Ainda vemos algumas pessoas com maturidade e consciência suficientes para permanecer em quarentena, evitar lugares fechados a todo custo e, muito mais ainda, encontrar com parentes e amigos para o Natal e o Ano Novo, mas parecem ser uma minoria obstinada capaz de sobreviver a crises.
Vemos festas de famosos reunindo centenas de pessoas e espalhando os miasmas da dor e da morte entre quase todos os funcionários envolvidos na festa, o que dirá dos convidados que provavelmente se manterão calados como a amiga de uma amiga que foi fazer um passeio de lancha já sabendo que estava contagiosa.
Muitos amigos e conhecidos também estão viajando para se reunir a família e tenho alguma dificuldade em entender o motivo de correr tanto risco tão perto da chegada das vacinas.
É como transformar o Natal em uma festividade apocalíptica, mas tenho certeza que não é essa a intenção. Não tenho perguntado porque assumo que as pessoas sabem o risco que correm, mas decidem correr por algum motivo que talvez não resista a questionamento, mas já é tarde para mudar o rumo, então notei que não faria bem algum perguntar. Fico apenas torcendo para que tenham sorte ou, se não tiverem, não se sintam responsáveis pelo sofrimento ou destino das pessoas próximas… Bem, cada um é responsável por si, não é? Se alguém disser que virá aqui em casa ou me chamar para ir até lá eu direi não (até por talvez ainda estar contagioso). Espero que ninguém se sinta responsável pelos outros.
A dor das pessoas próximas é a nossa dor também, entretanto a tempestade coletiva plantada no Natal e Ano Novo nos trará outras dores, outros cansaços. Gostaria muito — e espero — estar errado ou que algo aconteça para impedir uma grande tempestade, mas já não estamos indo nada bem e só hoje as pessoas estão se encontrando e sabemos que demora duas semanas para perceber os resultados das nossas inconsequências com a covid-19.
Nesse aspecto vivemos uma distopia em que vemos uma parte grande demais da sociedade se deslocando como lemingues mergulhando na lava quando podiam se salvar com poucas perdas. Nos resta o… conforto? de saber que isso terá um fim e que talvez o que estamos vivendo agora, os erros que temos cometido, a nossa vulnerabilidade a governos ruins, ecoem nos próximos anos e aprendamos algo com esse Natal, desculpem, sangrento. Afinal, tendo sorte ou não, estamos agindo pelo caos e não pelo amor e pela paz.
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