Hoje seria o dia internacional da água se esses dígitos nos relógios não tivessem passado de 23 para 00 a despeito da minha vontade de falar sobre isso no dia certo. Vai ter que ser com vinte minutos de atraso, ou melhor, 24h e 20 minutos… É, não tinha jeito mesmo. Pelo menos no ano retrasado eu consegui.
Vim no ônibus do Metrô rabiscando umas coisas (sou incapaz de escrever em movimento) e refletindo sobre os nossos dias ou estatutos ou princípios internacionais.
Faz décadas que há estatutos para as crianças, direitos humanos, dias da água, da árvore etc. Só que as coisas não parecem estar melhorando muito…
Por um lado tem a mídia psicopata que parece ter medo de falar de coisas boas como os recentes elogios que o Brasil recebeu por sua boa gestão da água pública (feitos pela ONG britânica World Development Movement ou no meu clipping).
Por outro lado há o fato inquestionável de que a grande maioria não se comove com os nossos problemas. Ela parece preocupada demais com o próprio reflexo no espelho, afinal o início do século XXI parece ser marcado pelo individualismo que nos cega para o mundo exterior.
É claro que adianta fazer campanhas para o melhor uso da água, a situação é muito séria e todo esforço é válido. O mesmo vale para os direitos das mulheres, dos diferentes, dos iguais demais, para a preservação do meio ambiente, da arte, da cultura, das culturas…
No entanto talvez esses não passem de esforços superficiais capazes apenas de tirar o lixo da superfície das águas enquanto a vida nos leitos dos rios, mares e lagos da nossa humanidade se extingue lentamente coberta por lodo.
Deixando as metáforas de lado…
Conscientização nos atinge na esfera consciente e racional, mas não é capaz de nos mobilizar, de atingir nosso coração e nossa alma.
O problema da água no mundo não é de comportamento, é moral, é espiritual.
Enquanto vivermos uma cultura obcecada com a imagem e onde o indivíduo espera que democracia seja sua carta branca para fazer o que ELE quer e não um instrumento para que seja feito o que é melhor para a maioria, nossas campanhas de conscientização falharão.
É um grande desafio, mas se desejamos salvar nossa água, nossas crianças, nossos vizinhos, nossa civilização (que se cristaliza em nossa arte, cultura e misticismo) temos que buscar novas morais transgredindo as velhas. Temos que arriscar certa imoralidade pois a velha moral já não serve mais. Temos que nos transformar individual e coletivamente.