A gente tem a nossa vida para cuidar, nossas contas a pagar, um salário a preservar e tudo piora quando somos autônomos ou pequenos empresários… E cada dia tem mais autônomo e empresário pequeno entre as classes A e B.
Desse jeito acabamos soterrados pelo medo da violência, do assalto, do pedinte na rua e das ameaças a nossa propriedade. Não sobra tempo para nos informarmos e preocuparmos com os atingidos por barreiras, sem terra e a legião de outros brasileiros que vivem um Brasil diferente do nosso.
É natural que, desinformados, olhemos para os movimentos desse pessoal com desconfiança. O que mais escuto são manifestações de indignação pela destruição dos laboratórios da Aracruz ou com a passeata em Minas. Afinal os jornais nos dão a notícia, mas não a contextualizam. Quer dizer. O que aconteceu antes para levar mais de mil mulheres a promover um ato de vandalismo?
A violência não é a minha via de expressão e não creio que um dia venha a dar meu apoio a qualquer ato de violência, mas consigo entender a revolta dessas pessoas.
A mídia existe para quem compra revistas, quem compra os produtos anunciados nos intervalos e, fatalmente, é feita com a preocupação de agradar esse público.
Talvez por isso não se dá espaço suficiente na mídia para os problemas ecológicos das florestas de eucaliptos e das barreiras que atingem mais de um milhão de brasileiros.
Ter mais uma coisa com que se preocupar é um saco, ninguém merece, né? Entretanto já não tem como fecharmos os olhos para a proximidade física que existe entre as classes no Brasil (principalmente no Rio). Mesmo que fechemos os olhos para a proximidade espiritual ou biológica temos que admitir que não há como vivermos em paz enquanto não somarmos nossas vozes às vozes abafadas dos que não tem voz na mídia.
Estou falando nisso tudo porque recebi dois artigos por email. O primeiro do Frei Albino da Paróquia Nossa Senhora do Carmo que me levou a um artigo sobre o conflito entre as campesinas e a Aracruz. O segundo publicado na ADITAL (perdeu-se e não achei) Adicionando em 2020: Mapa da violência na Fiocruz (ou no clipping) também fala sobre a Aracruz e um pouco sobre o problema das barreiras.