Depois de ver três ou quatro pessoas compartilhando em minha TL do Facebook declarações de apoio à operação de caça a um traficante que fez chover tiros em uma área residencial tive que fazer o comentário a seguir.
Acho que não posso ser covarde. Vou falar mesmo achando que alguns amigos vão se chatear comigo.
Uma grande parte da minha TL festeja a caça ao Matemático com saraivadas de balas entre as residências de uma favela.
Uma pequena parte da minha TL se lembra de ter perdido parentes e amigos ou de noites encolhidos nos cantos das suas casas enquanto as balas traçavam caminhos de sangue e medo entre as estreitas ruelas das suas comunidades.
Por eles venho dizer que não aprovo saraivadas de balas em lugar nenhum, nem nas favelas, nem na Visconde de Pirajá.
Não que a minha opinião vá mudar alguma coisa, mas simplesmente acho que não tenho o direito de ficar calado.
Eu mesmo no FB
Preferi não me informar dos detalhes sobre o traficante pois isso não muda o risco que os moradores passaram.
Também preferi não recorrer ao argumento de “se fosse em uma área residencial nobre será que haveria essa aprovação?” porque não quero ceder à ideia de que há cidadãos nobres e cidadãos vulgares.
Vou registrar apenas uma opinião a mais: ao tratar essa população como “dano colateral” estamos perpetuando a percepção de que eles não fazem parte do Brasil e, consequentemente, o contingente de rejeitados prontos a serem aliciados pelo crime.
Essa história toda me fez lembrar desse livro que está na minha lista de leituras.