É um casal meio hippie, neo-hippie, aliás pós-neo-hippie já que poucas ideologias parecem mais distantes do que o paz-e-amor da década de 70. Mesmo assim sempre fica alguma coisa, nem que seja no jeito de vestir de algumas pessoas.
Ele. Cabelos grandes, barba densa e negra cobrindo todo o corpo. Ela. Calcanhar direito para fora do tênis (tinha um machucado), blusa amarrada ao redor do quadril. Um cigarro entre os dedos.
Na faixa dos vinte e poucos, os dois com braços e pernas finos e esguios. Olhando pela lente do estereótipo era fácil enxergar um casal que não precisa de lar pois o mundo é sua casa, não precisa de trabalho já que o sonho é seu ofício.
Ainda ontem jovens assim enfrentavam a pé soldados montados em cavalos, pintavam o rosto para gritar contra um presidente corrupto. E agora? Onde estará indo esse casal? O que será do prédio da UNE e da carteirinha que garante entrada em festas e cinemas? Vai ver votarão nulo em seus 15 segundos de protesto solitário diante da urna. Vai ver são como uma placa tectônica esperando a pressão certa para produzir um tsunami. Vai ver não acham que a coisa está tão ruim e, se os velhos estão incomodados, que se mexam.