Quase todo mundo cansado na minha TL do Facebook. No Twitter a coisa está mais tranquila porque a “atração gravitacional” dos papos lá é menor e não se desenvolvem debates que acabam descambando para as falácias, crenças e agressões pessoais no desespero para defender um ponto de vista que acaba ganhando véus de profecias apocalípticas caso a visão política oposta prevaleça.
Funciona mais ou menos assim:
Me convenci que o candidato ou partido X é terrível e continuará sendo terrível no futuro, então tudo de pior que puder acontecer acontecerá se ele tiver poder.
A partir daí vejo os amigos de um lado achando que o inimigo do terrível é maravilhoso ou que o terrível vai instalar uma ditadura no país.
Em desespero nossos amigos entregues às emoções se espancam verbalmente, ainda que muitas vezes recorram a ironias mal controladas, e estranhos chegam a se espancar de verdade nos casos mais extremos.
Uns poucos ficam de fora olhando a briga. Desses tem os Jedi que estão mobilizados, mas preferem não se entregar às emoções percebendo que isso compromete seu julgamento, e os Jaba que não estão nem aí para nada mesmo e que só querem curtir a princesa Leia de biquíni.
Seja como for: um turbilhão de desgastes emocionais, de gente se bloqueando, gente entregando seus ódios, gente parando de se seguir…
Mas, sabe que acho que é um preço que temos que pagar para ter uma sociedade melhor (e amigos melhores também)…
Aliás é uma boa oportunidade para sermos pessoas melhores, não acha? Se nós cedemos a generalizações do tipo “eleitor do X é fascista, homofóbico, machista” ou “Eleitor do Y é burro, vagabundo, ingênuo” é uma boa parar para pensar sobre como temos observado o mundo…
Vou confessar que meus esforços para não generalizar o lado mais oposto ao meu não tem sido muito bem sucedidos. Cada vez que entro na timeline de alguém mais engajado encontro o mesmo terço de preconceitos e fobias.
Isso acontece, na minha opinião, porque a gente olha para os que chamam atenção e os que chamam atenção são os fanáticos. Boom! Decepção na certa.
Entrei também nas TL de amigos mais engajados do “meu lado” e vi um monte de piadinha malvada e generalização preconceituosa contra o outro lado.
É claro que a maldade com nosso inimigo nos parece engraçada enquanto aquela contra nós dói, né? Você consegue se colocar no lugar do outro? Eu… nem sempre…
Vamos sair piores ou melhores disso?
Acho que tem medo e decepção para todo lado, mas humanos são sobreviventes.
É tudo mais difícil para os mais radicais, os que viram demônios nos adversários tratando-os como inimigos e destilando raiva e até ódio inclusive contra amigos, mas difícil não é impossível.
Acho que toda essa história serviu um pouco para nos fazer perceber o que eu acho mais importante e comentei lá no Meme de Carbono no post Eleições 2014.
Resumidamente: Políticos e a mídia são peões em um tabuleiro onde os jogadores somos nós e as corporações. As corporações movem a economia e nós movemos o consumo. Quem se organiza melhor manda mais nos políticos e na mídia.
Por outro lado, ao redor dos que defendiam fanaticamente suas posições, vi muita argumentação, reflexão, busca de informações pois a maioria das pessoas não eram fanáticas “de carteirinha”.
É muito difícil ter uma visão clara desses grupos, né? Quantos fanáticos, quantos do lado X, quantos do lado Y, que outros lados existiam e por aí vai.
Essa polarização entre dois lados é outra coisa que achei interessante pois tenho a impressão que as pessoas estavam enxergando bem as diferenças entre as propostas dos candidatos.
Ah! Tem isso também!
Muito embora as pessoas votem em anjos salvadores ou para tentar impedir demônios torturadores eu sempre vi o voto como uma declaração de que conjunto de propostas políticas queremos para os próximos anos e acho que as pessoas em geral estavam pensando nisso também, ainda que meio inconscientemente.
Enfim…
Foi ruim?
Hummm… Foi desagradável.
Quero que acabe logo para eu ter paz até perto das próximas eleições…
Não… Qué não ;) Prefiro o desgaste a ver meus amigos alienados esperando para ser cidadãos um mês a cada dois anos ou quatro porque o engajamento mesmo é para eleger o presidente.
É claro que ninguém, ou quase ninguém, consegue manter esse fôlego polemista por mais de dois ou três meses e as coisas devem se acalmar, mas vou torcer para mais gente pesquisar mais tanto as coisas que acha legais quanto as que acha ruins.
Já descobri que muita coisa que eu achava legal era ruim e muita coisa que me parecia ruim era legal. A gente tem que ter, no mínimo, humildade, né?
Sei que um bocado de gente passou a se afastar dos amigos “do outro” lado recorrendo aos filtros que o FB permite, mas a vida não tem filtro e creio que o debate e participação políticos vão aumentar aos poucos como eu acho que já vem aumentando.
Sabe… Eu adoraria só ficar lendo, indo ao cinema, batendo papo com os amigos sobre questões da vida, do Universo e tudo o mais sem ter que me preocupar com o que a mídia, o marketing, os políticos estão fazendo para agradar as empresas… mas… eu…
Olha, nem venha pensar que eu penso que tem um punhado de gênios do crime por trás das empresas malvadas! Eu gosto de teorias da conspiração como divertimento, mas isso é uma misturada danada entre os m?dias, os povos, os empresários, os políticos etc.
Enfim, quanto mais de nós decidir tentar entender o cenário político, econômico e social em que vivemos melhor. Vamos precisar disso para seguir em frente. Não tem mais como a sociedade não ser um jogador consciente nesse tabuleiro que é a Humanidade.
Atualizando em nov/2020: O Normose fez um documentário em 4 partes que dá uma visão ampla e atenta dos anos que viriam a seguir. Assista! Essa é a primeira parte!