Ainda outro dia falei da hipocrisia de certos grupos quando falam dos seus fetiches ou convicções.

Alguém me explica por que é um pecado terrível tirar o direito das pessoas à posse de armas, e também é pecado dar para as mulheres o direito de decidir sobre a própria vida e do seu feto nos casos críticos?

Já despontam pela rede as correntes contra o projeto de lei 1135/91.

Primeiro gritaram com rostos vermelhos que cuspiam perdigotos que ser contra as armas era ser contra a vida. Agora dizem é contra a vida quem acha que as dezenas de milhares (10.000 só em São Paulo) de mulheres que morrem anualmente em abortos tem direito a fazê-lo legalmente em ambiente controlado.

O problema é que um muro de radicalismo religioso se interpõe entre um grupo cada vez maior de pessoas e a razão.

Ninguém tem direito de impor suas crenças aos outros. O estado deve ser laico.

Não sou cristão, mas tenho certeza de que o aborto é ruim. Sou contra ele, naturalmente. Mas não sou arrogante a ponto de me investir da autoridade divina e obrigar pela lei que todos vivam de acordo com as minhas crenças. Uma pena… Seria um mundo com muito mais respeito à vida, ao meio ambiente e à liberdade.

Só que tal mundo só virá se cada um tiver liberdade para decidir suas opções.

Para resumir:

“Se o deus cristão dá livre arbítrio aos seus filhos porque estes mesmos filhos querem tirar o livre arbítrio dos que não seguem sua fé?”

P.S.: sim, até onde sei quem faz aborto não é cristão. (em 2018 já não me acho qualificado para julgar isso)