Tive um papo na semana passada que pensei em comentar aqui, mas iam surgindo coisas mais legais e fui deixando para depois, além do mais, tenho colocado a mão na consciência e repensado esta minha pulsão de opinar sobre questões que estão além do meu raio de ação. Como a repressão ao crime, por exemplo.
O que posso fazer para efetivamente mudar o quadro atual? Adianta ficar dizendo “gente, sem justiça social não dá nem para pensar em repressão” ou “Porra! Quando pegar um vagabundo desse tem mais é que matar, ai o crime para!”?
Falar tem qualquer efeito, se a gente não está envolvido em nenhum trabalho humanitário ou nas políicas de segurança pública?
O melhor a fazer é cuidar do que podemos: não mentir, fazer o nosso trabalho com profissionalismo, jogar o lixo no lixo, consumir conscientemente…
Por todos esses motivos eu nem deveria ter conversado sobre criminalidade, repressão e justiça social naquele almoço na sexta passada. Mas quem me conhece sabe que, de um jeito ou de outro, acabo sempre opinando.
Pelo menos agora que desisti de salvar o mundo tenho como opinar com muito mais calma, o que já devia fazer há muito tempo, como o Dalai Lama faria, né?
Nem lembro como o papo chegou no problema da criminalidade, parece que atualmente todo mundo só quer falar nisso, né?
Os comentários são quase sempre os mesmos: Tem bandido que não tem jeito, em vez de mandar para a prisão tinha que matar, direitos humanos não são para bandidos, quando a polícia pega um facínora destes tem que matar no caminho!
Olha, esse negócio de opiniões emocionais e acaloradas normalmente não dá certo. Assim como o estado devia ser laico (religião separada de nação) as opiniões deviam ser racionais. Emoção facilmente leva a razão a inventar motivos para acatar o que decidimos por ódio ou amor.
Foi por isso que perguntei ao meu amigo algumas coisas simples.
Quem decide os que são facínoras incorrigíveis que devem ser mortos? Quais seriam os critérios para definir isso, ou será que haverá um tipo de paranormal capaz de ver a essência das pessoas e declarar quem vive e quem morre? Se damos poder à polícia para executar sumariamente os criminosos o que nos garante que não seremos mortos por parecer com um deles?
A corrupção e o crime que vivem em comensalismo devorando nossa esperança e nossa paz merecem o nosso desprezo e até nosso ódio, mas infelizmente o pior que podemos fazer é nos entregar a esses sentimentos.
Creio que, se queremos mudar nosso país a primeira coisa a fazer é respirar fundo e focar a atenção no que podemos fazer aqui e agora para mudá-lo. Além do que citei lá no começo do post podemos votar conscientemente e buscar os políticos que se mantém honestos. Sim eles existem, basta ignorar a imprensa que só fala dos desonestos e procurar aqueles que nunca são citados por ela. Tem uma meia dúzia ai.