Há dois dias ouvi falar no caso pela primeira vez. Me disseram “Uma campanha da organização Invisible Children tomou conta das redes sociais online! Milhões de pessoas querem deter esse Kony que sequestra crianças, deforma seus rostos e as transforma em soldados”.
Achei estranho.
[Atualizando em 16/03/2012]
Depois de escrever o post fui lendo outras opiniões e acabei ficando muito mais contrário a Invisible Children e a essa campanha levando em consideração principalmente coisas como o fortalecimento militar de um governo que também é cruel (o de Uganda), o estímulo a outros facínoras a seguir os passos de Kony para serem famosos, o possível fortalecimento do próprio Kony diante da propaganda e os possíveis interesses escusos em torno das enormes jazidas de petróleo achadas no território do Sudão, vizinho de Uganda.
Enfim: sou totalmente contra a campanha.
Mantenho o post original a seguir como mea-culpa
[Fim da atualização de 16/03/2012]
Vi o começo do vídeo e compartilhei antes de chegar aos 10 minutos. Não devia.
Se queremos ajudar o povo de Uganda temos que compartilhar vídeos como esse:
Bem, segue o vídeo que viralizou, né?
Vou começar pelo que me incomoda na história.
- Todos os povos tem a força necessária para se mobilizar. A primavera árabe está ai para demonstrar isso. Acho estranho a mobilização não ter saído de lá e sim de um ocidental dos EUA.
- Super-vilões convencem na ficção infanto-juvenil (que adoro), mas na realidade vilões são apenas sintomas de culturas geralmente exploradas social e economicamente por outras nações ou corporações.
- Temos que pensar 10 vezes antes de enviar nossas forças militares para fortalecer as forças militares de outros países. Há nisso questões morais além do perigo de estar fortalecendo um mal igual ou pior. Desconfie sempre de governos que lidam com seu povo através da força armada… Bem, tanto o nosso quanto o dos EUA fazem isso… Melhor desconfiarmos deles também, mas essa é outra história.
- O vídeo não nos ensina nada sobre a cultura, história e situação real de Uganda.
- No caminho para tonar Kony mundialmente famoso a Invisible Children fica famosa junto. Ele morrerá (se já não morreu) e a organização continuará recolhendo recursos milionários.
- A propósito a Invisible Children é bem suspeita como demonstram os artigos Stop At Nothing e Kony 2012 expõe criminoso na Época
Esses são os problemas principais e eu não darei dinheiro para a Invisible Children.
Aliás acho que a maior ajuda que podemos dar para nós mesmos e para outras culturas é nossa voz, é estudá-las tentando nos colocar no lugar deles, é buscar o que temos em comum e admirar o que temos de diferente.
Aliás o mundo não muda de verdade pela força das armas ou do dinheiro e sim pela propagação de ideias.
Bem, mesmo a idoneidade da Invisible Children e seus princípios sendo colocados em dúvida por alguns, há muita coisa boa, muito boa mesmo nessa campanha!
Vamos ao que acho legal (na verdade quase sensacional) nesse movimento:
- O crescimento da ideia de que a pirâmide do poder está sendo invertida aumentando o poder da voz popular sobre as decisões políticas e econômicas. Esse talvez seja o ponto focal das mudanças que ocorrerão nesse século.
- A consciência de que o caminho para as culturas periféricas é o acesso ao conhecimento através de escolas. Essa mensagem é forte apesar do vídeo dar destaque maior à intervenção militar.
- Me parece que grande parte do estímulo das pessoas vem de uma empatia mais pura do que aquela que sentimos por povos de religiões ou culturas que não aceitamos. Pode ser que o primeiro estímulo seja o sentimento de superioridade, mas seria surpreendente se não fosse assim, mas normalmente a empatia não vem antes do quinto ou sexto estímulo.
É, tenho menos pontos positivos que negativos, posso estar sendo muito amargo, mas tenho uma forte resistência a movimentos que não começam de dentro para fora, acho que são como drogas ou as asas de Ícaro que nos colocam em uma situação para a qual não estamos prontos o que nos torna vulneráveis a todo tipo de manipulação e exploração.
Na contabilidade final acho que a campanha dará força para o meme da voz popular, do chamado fenômeno ocuppy e por isso eu provavelmente também espalharei uns cartazes “Google.com: Joseph Kony 2012 Uganda”. Mas eu mesmo vou imprimir…
Não vou dar força à criação e estímulo de mais vilões como o Kony, não colocarei cartaz Kony 2012 em lugar algum, talvez coloque alguns “Como a Invisible Children se aproveita da miséria em Uganda para obter poder”
Links:
- A história real sobre o viral Kony 2012
- A Globo fez muito bem o dever de casa no artigo Vídeo de ONG para combater guerrilheiro irrita africanos
Extremamente lcida sua anlise, Roney. Certas desconfianas me movem. Mas o ato coletivo me comove! Esta histria do dinheiro no pega bem. Como os shows capitaneados pela Globo, todos os anos. Mas o movimento lcito! Parabns!
Parabns Roney!
Temos realmente que desconfiar destas campanhas. Mas, como voc disse a ajuda tem que vir da voz. Livros como Genocdio da jornalista Samantha Power fala exatamente disso. Das mazelas ocorridas pelo mundo, principalmente na frica e que o melhor que podemos fazer e dar nossa voz, nosso paoio e ajuda as estes povos que sofrem nas mos de loucos que da noite para o dia acham que a sua etnia so melhores do que as outras e saem matando descontroladamente. Alguns pases da frica tem sofrida mortalmente por causa de loucos como este. Crianas h muito tempo tem passado por mazelas terrveis e para no morrer se submetem a lavagens cerebrais, tornando-se exercpitos de crianas que matam sem saber o por que de tudo aquilo estar acontecendo. O que sabem realmente que se no fizerem sofreram as consequncias. Os movimentos devem ser de dentro para fora, mas muitas vezes um povo fica to oprimido que esta fora se cala. Li muitos livros sobre Ruanda e neste caso eles no conseguiram nem ajuda suficiente da ONU e muito menos dos pases que o colonizaram como a Frana e Blgica e os EUA, se meter e com isto se calaram frente ao terrvel Genocdio. Quando di no bolso dos pases que tem interesse eles se intrometem e mandam ajuda e seus exrcitos. o caso dos pases rabns. Eles se revoltaram, tiveram fora para gritar e os pases que utilizam seu petrleo, claro entraram na Onu com fortes reclamaes e possveis intervenes. No caso de Uganda, algo deve ter por trs e eu, como vc pensaria fortemente no caso, estudaria profundamente antes de qualquer colaborao. Mas, uma coisa podemos e devemos fazer, se estas crianas esto sofrendo assim e no a primeira vez que Uganda sofre horrores, o que temos que fazer espalhar, fazer um meme para ajudar as crianas, no sei com dinheiro. Mas, para recuperar a dignidade e as mentes destes pequenos. Os ocidentais dificilmente conseguem se colocar no lugar de uma cultura que est muito longe da sua. Em meu estudo sobre o islamismo muitas vezes fui criticada por entender perfeitamente o que eles pensam, mas isto, mas eu nunca disse que concordava com barbaridades que muitos dos homens fazem com as mulheres, pois isto nem est no Alcoro. O oscar acabou de premiar dois filmes. Um documentrio falando sobre as deformidades que as mulheres Paquistanesas ou Afegs (no me lembro no momento) sofrem nas mos de seus maridos. So deformadas com cido quandoelas se revoltam com as surras constantes e as humilhaes que so submetidas e o Oscar de Melhor filme Estrangeiro foi para um filme iraniano chamado “Separao”, maravilhoso e que conta o que acontece com uma mulher quando ela se separa do marido. Certamente, erste diretor Iraniano sofrer horrores nas mos do governo de seu pas por ter mostrado este problema e por ter sido premiado. No momento, ainda nao soube de algo. Mas, o mundo deveria dar mais ateno a outras culturas e parar de achar que o mundo inteiro ocidental. Muitos pases ainda esto na marginalidade, suas sociedades esto desconectadas e no possuem vozes. J que nos achamos to podereosos podemos ajud-los fortemente com nossos vozes. Vozes derrubaram Mubarak no Egito e Kadhafi na Lbia, por que ento no ajudamos desta forma? Parabns pelo post!