Tem uma coisa que a gente dificilmente consegue sintetizar: o que acontece agora.

O “agora” é um tipo de rave cheia de luzes estroboscópicas, drogas e alcool que atrapalham nossa percepção. Mas a gente tem essa necessidade involuntária de tentar entender o mundo em que vivemos. É uma dureza.

Pegue a França — que tenho a perturbadora sensação de escutar sussurrando para mim nas entrelinhas das notícias: eu sou o Brasil amanhã — e a fogueira de conflitos sociais, culturais e econômicos das últimas semanas. Literalmente.

Não é de hoje que tem gente alertando para o preconceito europeu contra os imigrantes. Também parece ser verdade que existe um preconceito dos imigrantes contra o governo Francês. Tostines vende mais porque é mais fresquinho ou é mais fresquinho porque vende mais?

Preciso me abster de apresentar uma opinião sobre o que acontece lá. Primeiro porque não estou bem informado. Segundo porque teria que dar uma longa volta para dizer o que desconfio que está acontecendo, não só lá, mas em boa parte da nossa civilização.

Acima de tudo me pergunto se algo assim pode acontecer do nada, sem que ninguém perceba. É claro que não.

Uns quinze anos atrás alguns policiais mataram um suposto bandido atrás do Rio Sul (no Rio de Janeiro) e a maioria de nós aplaudiu a execução sumária enquanto criticava “a galera dos direitos humanos” afinal bandido não é humano. Não? Não mesmo?

O tempo passou e a cada dia parecemos fugir mais da dura realidade optando pela repressão da violência sem dedicar grande atenção a reflexões sobre suas origens. Combatemos os sintomas sem buscar as causas. A dura realidade é que todos somos humanos e a distância entre o monstro que merece a morte sem julgamento e você ou eu está apenas em nosso conformismo ou inconformismo diante das dificuldades.