No natal ganhei da minha cunhada o livro Fun Home de Allison Bechdel. É um livro em quadrinhos nada infantil, sério e muito bom.
Meu sogro, ignorando a qualidade dos quadrinhos adultos, fez uma piadinha, coitado! Foi bombardeado pelos filhos enquanto a mais velha (minha esposa) vinha trazendo um por um os nossos quadrinhos adultos.
Aliás, não confunda adulto com pornográfico! Não sei quem inventou isso… Os quadrinhos pornográficos deviam ser chamados de quadrinhos adolescentes…
Entre eles estava Gen – pés descalços.
O que me fez lembrar de tudo isso foi, por incrível que pareça, o discreto flame em torno do filme A Bússola de Ouro.
Discreto aqui pois nos EUA aparentemente a campanha religiosa para boicotar o filme deu certo. Raramente um filme faz apenas 66 milhões de dólares nos EUA e 233 milhões no resto do mundo (acompanhe a bilheteria aqui).
Isso, na minha opinião, demonstra o poder do fundamentalismo cristão nos EUA que foi capaz de, sob ameaças de enviar todos ao inferno, afastar as plateias da primeira parte de uma história que fala em liberdade de pensamento e livre arbítrio.
E foi a forma que a campanha tomou lá (e até com alguns reflexos aqui) que me fez lembrar de Gen – Pés Descalços onde vemos outra forma de fundamentalismo, o patriótico, demonizando o “inimigo”.
Os fundamentalismos fazem isso: criam inimigos e usam sua influência na mídia para nos convencer de que os americanos vão destruir a Terra do Sol ou que os livros dos ateus vão consumir a alma dos nossos filhos.
Não podemos fazer muito para mudar as ações do fundamentalismo cristão, islâmico ou ateu, mas podemos ficar atentos para que não sejamos transformados em peões das suas campanhas de medo e ódio que visam comprometer a nossa capacidade de pensar.
Naturalmente, quem acredita (como eu) que o conhecimento deve ser patrimônio da humanidade, também acredita que a mente questionadora, racional e livre é um dos nossos direitos mais sagrados.
Concordo plenamente, devemos ficar atentos para no virar massa de manobra na mo daqueles que acham que sabem o que melhor para ns e nossos filhos. Quanto a campanha religiosa contra o filme, fcil de entender: a igreja no quer que as pessoas se desviem da sua linha de conduta, e continuem acreditando que s na “casa de Deus” os fiis tero salvao, pois s assim a grana continua entrando, pra quem no sabe a maior fonte arrecadadora do planeta. E no pagam impostos (pelo menos no Brasil).
Ao ler sua frase “a mente questionadora, racional e livre um dos nossos direitos mais sagrados” me lembrei de um filme sobre a Revoluo Francesa, “Danton, o processo da revoluo”, onde o personagem principal diz algo como “o homem s possui os direitos que consegue defender”. Quantas pessoas pensam nisso hoje?