— Então você faz a pesquisa? — pergunta a primeira moça para a outra que enfia uma garfada na salada.

— Não! Temos uma grande equipe com estagiários e tudo o mais! — Responde a segunda deixando nas entrelinhas que é importante e portanto não faz nada deixando o trabalho para outros, quando obviamente não é verdade…

— Ah! Que legal! — retorna a primeira. Em seu rosto e tom de voz lê-se claramente “que idiota! Não deve saber fazer nada e só se escora nos pobres estagiários!”. Por algum motivo ainda assim ela inveja a primeira.

É um dia quente no Jockey clube, mesmo nas mesas externas onde as moças se sentam. A primavera prepara com esmero sua apoteose e o pólem já começa a se fazer sentir. Atrás das mesas, nos corredores internos, dezenas de editoras expõe seus lançamentos e tesouros literários, também é primavera para os livros.

O telefone da segunda moça toca.

— Marta? Já estou aqui, na varanda. É… Bem em frente à entrada… Não, fica ai, vou te pegar! — fecha o telefone e continua olhando para as amigas — É a Marta, a diretora. — procura dar um tom casual e desligado, como se não considerasse nada demais conhecer a diretora, e continua — Vou lá pegar a Marta, a diretora.

A repetição é sua primeira traição… Quer parecer importante, e talvez até seja, mas não é assim que se sente e se debate por trás dos olhos imprecisos para aparentar poder.

Nas mesas ao redor pessoas permanecem sentadas alheias à conversa das duas, até mesmo os homens que as acompanham parecem perdidos em seus próprios devaneios. Diversas pessoas permanecem de pé esperando que uma mesa seja abandonada, mas os que permanecem sentados anseiam por desfrutar de algum poder e a sensação de possuir a mesa já lhes serve de consolo.

Vaidades…