Muito tempo atrás os pães vinham enrolados em umas folhas de papel meio acinzentadas e amarradas com um barbante.
Tinha gente que ia guardando os barbantes, cada dia um e, no fim de um, dois, dez anos tinha um enorme novelo com centenas de dias misturados em um só ponto.
Essa era a única forma familiar de ver o passado reunido até uns 30 anos atrás. Minha avó mesmo tinha vários desses novelos e nunca tinha percebido que aquelas eram convergências do tempo. Misteriosos corpos que acumulavam memórias, histórias e culturas passadas de boca em boca. Até ontem.
Ontem fui a um aniversário de amigos uns 20 anos mais jovens que eu. No computador ligado a um poderoso sistema de caixas de som tocavam músicas de décadas que eles não viveram e puxavam da minha memória fatos e programas que eles não assistiram, mas dos quais se lembravam.
Este é um tempo sensacional e de explicação assustadoramente complexa.
Com duas telinhas luminosas diante de nós podemos reunir todos os anos passados em um novelo infinito de memórias que adotamos como nossas.
Enquanto houver uma janela aberta para o passado há esperança de transformação.