Não costumo reproduzir textos de outras pessoas aqui pois acho mais certo criar um link para o original, mas sonho é algo muito íntimo que não deve ser publicado para todos verem então pedi autorização de um amigo para publicar o sonho que ele teve e que achei muito interessante.

Segue o sonho.

Hoje de manhã mesmo eu sonhava que havia uma comprida passagem pelo mar, tal como em um mirante. Todos caminhavam por essa passagem cheia de coisas belas – restaurantes, mirantes, áreas de lazer, danceterias… – mas era uma passagem estreita e o mar, logo abaixo, era revolto. Enormes ondas subiam e ameaçavam passar por cima da passagem. A maioria das pessoas ignorava isso; continuavam a rir e se divertir. Eu andava com um grupo de pessoas – umas sete – e eram todas desconhecidas. E temia passar por um lugar especialmente baixo; vi ondas enormes de repente passarem por cima da passagem. Quando o grupo me alcançou e quis parar para contemplar a paisagem, quis avisá-los; voltei correndo e gritei desesperadamente para voltarem comigo. E todos sorriram, achando-me um alarmista, perturbado ou um medroso, sei lá. O que contou foi o que “a maioria” pensou.

Fiquei em um lugar mais alto e uma gigantesca onda levou quatro deles. Tudo era muito nítido e intenso….

Fui até lá, olhei para os restantes e perguntei: “quantos morreram?”, quase indiferentemente. E comecei a correr mais rápido, até a próxima parte mais alta, sendo seguido por só uma pessoa, enquanto os outros se quedaram atônitos. Então, acordei, com uma certa impressão ruim.

Depois, refletindo sobre esse sonho, fiquei pensando que era uma certa metáfora para a vida: as pessoas caminham em estreitas faixas de bem-estar, mal notando o quão estreitas são. Olham apenas para a frente e para trás, em suas linhas de vida, e acreditam que tudo sempre caminhará sobre esses trilhos. Só prestam atenção nas belezas hedonistas da estreita passagem em que vivem. E nem notam que pequeninas mudanças no nível das “águas”: ecossistema, sistema econômico, violência social etc. podem ultrapassar esses limites, e levá-las instantaneamente para o caos.

Parece um pesadelo, mas foi mais do que isso: uma certa percepção meio pessimista da sociedade em que estamos…

O que você acha? Como interpretaria esse sonho?

Lembre-se que, ao interpretá-lo provavelmente estará descobrindo mais sobre você do que sobre o sonhador. Vou correr este risco e dar a minha própria visão.

Mas antes forme a sua… Formou? ;)

Desconfio que a minha interpretação é meio óbvia para qualquer um que leia o blog com alguma frequência.

O que vejo é uma metáfora bem próxima do que vivemos coletivamente hoje. Embora vagas ameaçadoras estourem à volta preferimos nos alienar, achar que não é problema nosso e mergulhar nos apelos da sociedade de consumo. Mas, da mesma forma que, impotente, vi uma mulher ser assaltada ontem, as vagas nos atingirão.

Desconfio que o sonhador está preocupado ao ver como as tensões se intensificam e boa parcela do nosso povo se mantém entorpecido. Imagino que, como eu, ele entenda que só há esperança de melhoras se começarmos a desenvolver o que estão chamando de democracia participativa.

Esse é o sentido que vejo no sonho, mas uma das coisas mais incríveis sobre a linguagem simbólica é que ela assume infinitos significados de acordo com o espectador e o momento em que vive.