Recebi de uma amiga um email revoltado contra os quatro acusados de serem responsáveis pelo afogamento daquele calouro de medicina, o Edison Tsung Chi Hsueh, aquele que morreu em 99 durante os trotes na universidade de São Paulo. Tem um bom artigo sobre o fatídico trote na revista Época.
A revolta é porque os quatro continuam sua vida, se formaram e são médicos… Bem, aqui abro aspas!
Sempre achei essa história de trote uma idiotice, sempre fui contra! Quando fui veterano em meu primeiro curso superior (feito uma entidade militar) frequentava os trotes para poupar aqueles que não pareciam capazes de superá-los numa boa.
Todo trote é um jogo perverso de poder, humilhação e submissão que encaixa bem em nossos instintos símios (e falo nisso sem ironia ou aquele tom pessimista que nos vê como menos que humanos) ainda tão próximos de nós tomando a escala evolutiva como parâmetro de comparação.
Fim das aspas…
Naquele dia centenas de jovens se atiraram na piscina sob o comando de uma turba de veteranos. Sujos de tinta e farinha logo deixaram a água turva o bastante para que ninguém notasse o jovem que afundava rumo à morte. Uma outra moça quase teve o mesmo destino, mas alguém ao seu lado percebeu seu apuro e a salvou.
Depois do acidente veio o desejo de vingança, precisávamos de alguém a quem odiar e foram eleitos quatro suspeitos: Frederico Carlos Jaça Neto, Ary de Azevedo Marques Neto, Guilherme Novita Garcia e Luís Eduardo Passarelli Tirico.
Os quatro certamente são culpados, também tinham aquele comportamento “pit-boy” que os tornava excelentes sacrifícios para expurgar nosso medo e nossa revolta, mas talvez o grande demônio nisso tudo seja nossa inércia diante de tantos costumes cruéis que alimentamos ou permitimos que perdurem! Afinal quantos de nós nunca testemunharam um trote, brincadeira, pequeno furto, fofoca, mentira ou qualquer outro “pequeno deslize” sem nada fazer? Pode ter sido um amigo, o filho de um amigo ou mesmo um parente. A propósito, nós mesmos certamente já cometemos nossos deslizes.