No final das contas nós todos somos apenas histórias, então cuidemos para que sejam boas histórias… Hum?

Você pode não querer ser uma história para os outros; pode achar que uma boa história é ter tido poder; uma vida vazia de significado, mas repleta de prazeres; talvez rica em viagens com muitas fotos, mas pouca ou nenhuma imersão nas culturas locais. Você pode achar que a única história que importa é a das suas transformações internas que ninguém jamais conhecerá, mas dão sentido à sua vida e te fazem sentir que tem uma alma.

No final das contas todas as histórias são dignas de serem contadas. Da personagem vilã, da heroína, das pessoas coadjuvantes e também das que são apenas figurantes.

Aliás, as melhores histórias são aquelas que tratam com atenção e respeito cada tipo de personagem, até mesmo as paisagens.

Mas e as nossas histórias pessoais? Que história a sua vida está contando? Que história você gostaria que ela contasse?

Vamos voltar ao segundo parágrafo: Por que iríamos querer que as nossas histórias significassem algo para as outras pessoas? Afinal de contas é até questão de sobrevivência em uma época tóxica a gente não viver de acordo com as expectativas dos outros. Coma mais, coma menos, faça esse exercício, curta essa série, siga esse deus, não siga nada…

Acontece que não é assim.

A humanidade não é composta de pequenas casas onde vivemos solitárias por um motivo: as pessoas são sociais. Então nos acumulamos em números cada vez maiores e nos importamos sim com as nossas histórias.

Mais do que isso, a gente se importa em terminar, em deixar de existir. Todas as nossas religiões falam sobre algum tipo de vida após a morte porque queremos continuar existindo de alguma forma. Pode ser para continuar experimentando a consciência de existir, também pode ser para sermos lembradas.

Então… Que história você quer contar?

Aliás… Até que ponto temos controle sobre a história que contamos? Até que ponto a gente segue apenas um tipo de programação definida por quem veio antes, pelo meio em que crescemos?

Uma pessoa que nasceu em uma família rica e gananciosa tem a mesma facilidade para criar uma história de humildade e colaboração?

É… Tem Francisco de Assim, eu sei. Tem muitos outros e outras, como Sidarta, aliás! Mas todos eles, pelo menos os com histórias mais convincentes, passaram por um moment de ruptura.

Momentos de ruptura…

É terrível quando nossa realidade se rompe, mas pare e pense um pouco. São eles que nos abrem as portas para a liberdade! Para ver que a história que vivemos não é a única possível e que, na verdade, podemos mudá-la até o último suspiro. Podemos até mudar as histórias que já vivemos olhando para elas com um novo olhar, uma nova consciência (tem acontecido comigo conforme reviso posts desse blog de 15 anos atrás!).

Talvez você já tenha notado, se não notou aqui vai um spoiler: a nossa realidade toda está se rompendo. Não é só a política e amigas e parentes próxima, não são só as pessoas. Toda a nossa percepção da realidade está se rompendo.

Tudo começa com a ideia de que a humanidade é fluida, que ela não é binária, que tudo que importa não se encaixa em rótulos, em estereótipos.

Até aqui a gente pensava “se forte, logo burro”, “se mulher, logo frágil, intuitiva”, “se homem, então bruto, racional”.

Nossos estereótipos sempre estiveram errados, a gente apenas tentava se enquadrar neles porque eram as histórias que o nosso ambiente esperavam de nós.

E cá estamos de volta às histórias que vamos contar com o curso da nossa vida.

É meio triste, mas logo estaremos todas mortas e outras pessoas estarão criando histórias sobre a Terra. Histórias pessoais e um grande mar de histórias coletivas e isso é parte do que define a humanidade.

Criemos então boas histórias!

Me pergunto se é mesmo essencial que existam vilões ou se eles podem ser apenas um momento de uma história de vida maior que termina com a redenção, como o Scrooge da história de natal. Como Darth Vader (não é mais spoiler, é?).

Enquanto você vive o vilão você sequer percebe isso, você realmente acredita que está apenas se defendendo ou até mesmo salvando o mundo de uma liberdade que leva ao caos… Geralmente os vilões acham que estão promovendo a ordem sem notar que estão mesmo é destruindo a liberdade. Pode parar de ler um momento agora e pensar na política, em alguns filmes ou livros.

Também não é legal quando a gente opta por viver uma história que não é a nossa, quando a gente vive em função de alguém, criando a história que aquelas pessoas deviam estar criando e não nós. Essa é uma história que pode parecer de bondade, mas encerra um paternalismo arrogante que despreza e suprime as capacidades das outras pessoas.

E começo a perceber que esse post é um desafio pois, como as histórias que podemos viver, ele não tem fim até que seja interrompido abruptamente pelo fim da história que muita vezes vem antes que ela termi…

Não vou fazer isso! Foi uma forte tentação! Afinal o melhor fim para a história de uma vida é aquele em que a última história termina sem ser concluída.

Esse post pode terminar, ele pode ter uma conclusão, ele pode ter uma intenção inicial, um desenvolvimento e um encerramento esclarecedor.

A grande questão é que podemos assumir o controle das nossas histórias. Podemos fazer isso gradativamente porque somos muitas histórias conectadas a muitas outras, então devemos seguir com cuidado, com a delicadeza da fiandeira que não quer partir nenhum fio.

Comece por mudar a história mais fácil de mudar. Pode ser o acréscimo de uma pequena rotina que construa, a interrupção de uma pequena rotina que apenas consome seu tempo. Comece com calma, salve seu fôlego porque a viagem nunca termina até que a gente se transforme no último suspiro…

Daí talvez comece outra história.

Se não começar outra história, pelo menos você terá deixado uma marca indelével na humanidade. Raramente nossos nomes persistem, mas vamos resistir a essa arrogância e nos satisfazer em saber que nossas histórias inspiraram enquanto eram contadas e ecoaram se juntando a outras para formar a história da humanidade que, com um pouco de sorte, muita sabedoria e esforço, será quase infinita!

Estou pensando nesse post há mais de uma semana inspirado por uma fala do décimo primeiro Doctor:

We are all stories on the end…

No entanto acabei de ver Kubo, uma animação realmente emocionante sobre histórias.

Essas duas são minhas sugestões para completar esse post. Fique à vontade para completar com as suas…