“Plaplaplaplapla”

O vidro do ônibus ainda fazia barulho depois do tapão que levou.

O trânsito andava lentamente como costuma fazer e eu estava olhando placidamente para uma bela propaganda do réveillon aqui no Rio (uma escultura de areia do Cristo Redentor feita por computação gráfica) quando notei com a visão periférica uma figura desajeitada; parecia um paquiderme, mais precisamente um hipopótamo, correndo em minha direção.

Imaginei que fosse um conhecido querendo me assustar. Deixei. Sou um sujeito boa praça. Fingi que não via.

Veio o sujeito, espancou a janela e saiu correndo de volta para a esquina onde dois amigos o esperavam. Ele ria com um ar meio parvo. Fui me virando lentamente para ver quem era, mas já imaginava que devia ser um completo estranho. Se fosse um conhecido teria ficado perto para dizer olá.

Era mesmo um completo estranho.

Fiquei encarando os três – deviam estar na faixa dos 25 anos – imaginando o que passa na cabeça deste tipo de gente. Dava para ouvir o comentário do primeiro cara. Algo do tipo “… todo aéreo olhando para cima.”

Confesso que não estou sendo capaz de me colocar no lugar deles. Fiquei encarando por uns 90 segundos e analisando o esquisito comportamento. Até imagino que no fundo haja o medo e causar medo em alguém talvez afaste o temor interno, mas será que pode existir tanta imprudência assim apenas por causa de medos infantis? Eu poderia ser alguém violento, né?

Pelo menos acredito que o meu olhar interrogativo pode ter sido interpretado como medo ou raiva e isso pode ter dado algum alívio aos rapazes. É… que vida triste, né?