Quando o retorno financeiro se torna o principal objetivo da obra literária, cinematográfica ou qualquer outra perde-se mais do que o valor artístico, perde-se qualidade mitológica.

A imprensa sofre o mesmo mal, mas a linguagem dos noticiários é objetiva e sem símbolos, assim perde-se apenas o valor informativo, embora isso já seja uma deturpação perigosíssima em tempos de fobias coletivas.

No caso da obra artística os heróis se tornam setas atiradas direto através das crenças inconscientes da platéia adormecida.

Vemos uma casa explodir na tela do cinema levando toda a família do protagonista e o close que segue nos mostra apenas ódio e vingança, não mais do que um istmo de dor ou estupefação: os heróis modernos não amam, não tem laços de amizade, são máquinas programadas para matar e vingar.

São mitos como este que nos preparam para aceitar as soluções bílicas como a intervenção no Iraque.

Outros nos condenam a uma guerra maniqueísta entre cidadãos e pivetes, pobres e ricos, rotos e esfarrapados.

Os mitos, mais do que retratar a realidade com profundidade e detalhes que o discurso cartesiano é incapaz de reproduzir, moldam nossa percepção fazendo da ilusão realidade palpável. E este tipo de ilusão o raciocínio normal não é capaz de dissolver a não ser voltando para a estaca zero…

Qual é a estaca zero da humanidade?