Estes dias estava falando sobre o estado de desesperança mais ou menos generalizado entre nós brasileiros e citei como metáfora a jornada do protagonista de Senhor dos Anéis, o Hobbit Frodo que, apesar das esperanças se esvaírem lá pelo meio da aventura ele não se deixa dobrar. Segue sem esperança mesmo e consegue vencer.

— Isso não é realidade, é uma historinha! — Me disse uma velha amiga com quem na verdade conversei pouquíssimas vezes.

É verdade, é uma historinha. Assim como Guerra nas Estrelas, Babylon 5, Jornada nas Estrelas, Dom Quixote, O Paraíso Perdido de John Milton, o Bagavad Gita, a Mitologia Grega e, porque não? o Cristianismo.

Acontece que histórias são criadas por homens, fruto de um tempo, e sempre são uma forma de metáfora para a realidade e para o caráter do nosso espírito.

Talvez, e assim pensava Joseph Campbell, a falta de historinhas seja um dos grandes problemas da nossa civilização. Faltam-nos modelos consistentes, fábulas e mitos que mergulhem além da rasa superfície da nossa consciência e atinjam nossos pensamentos no fundo do inconsciente, onde vive a alma, onde se alimenta a consciência.

Historinhas são arte e, como insisto em dizer, arte é o ar que a consciência respira.

Sem historinhas não é para menos que nos falte esperança. Não é de surpreender que o discurso da maioria das pessoas que não dão mais ouvidos a historinhas seja triste, raivoso, desesperado, fatalista ou uma combinação disso em doses diferentes.

Temos uma vida a viver, não adianta fugir dela. Temos uma realidade a transformar. Uma realidade cheia de Saurons corruptores, de medos que nos conduzem ao lado negro da força, de anjos invejosos que não aceitam se submeter ao poder tirano de um deus que os atira ao inferno e de Quixotes que se apegam aos desprezados princípios da cavalaria.

Com historinhas ou sem historinhas este é um tempo para encontrar forças mesmo quando não há esperanças e seguir adiante até destruir o Um Anel que a todos corrompe, exceto Tom Bombadil…