Esta semana recebi alguns emails de um grupo de amigos falando sobre o caso do menino de 11 anos que foi preso depois de roubar um carro e fugir da polícia por 2,5Km.
…não pode ser preso
e nem encaminhado à Fundação Casa, que só recebe infratores de 12 a 17
anos. Ele poderá ser incluído em programas comunitários. Os pais não
respondem criminalmente, apenas civilmente pelos atos do filho. Eles
podem perder a guarda da criança.
As opiniões se dividiam, mas quase todos estavam revoltados por não poder ser aplicada uma punição mais rígida ao menino.
Eu pretendia ficar calado porque acho um desperdício falar nesse tipo de assunto por email e o que eu tenho a falar sempre vai além da esfera individual.
Explico. Não estou preocupado com o menino… Quando essas coisas acontecem logo se formam dois grupos, o do “mata esfola lincha” e o do “tadinho é só uma vítima do sistema”.
Pois não me importa muito o caso individual desse garoto embora preferisse que ele tivesse um tratamento diferente do que provavelmente terá (punição ou impunidade).
É um erro querer mudar o sistema a partir de casos individuais e no furor das emoções.
Esse garoto é o padrão das crianças marginalizadas? Não creio.
O que precisamos observar, por exemplo, é se (percentuais meramente ilustrativos): 90% dos jovens infratores são de famílias de baixa renda, 88% dos políticos corruptos foram mimados por seus pais, 10% de ambos os casos sofrem de psicopatias sérias tratáveis apenas com remédios.
Somente com esse tipo de informação podemos entender o que está transformando as pessoas em marginais.
Depois disso podemos pensar em punições adequadas. Mas…
Tenho um cão. Sempre tive cães, mas hoje tenho um grande (é magro ee pesa mais de 30 Kg) e percebi que ele teria que ser melhor adestrado que os outros. Como você adestra pela punição um animal grande, um leão por exemplo?
Foi então que descobri o livro Adestramento Inteligente de Alexandre Rossi e aprendi que a punição não precisa ser uma forma de tortura, não precisa envolver dor, vergonha ou qualquer tipo de maltrato, mas simplesmente ser a privação de um prêmio, por exemplo. Graças a ele hoje temos um cão extremamente dócil e obediente sem ter recebido qualquer castigo físico, e olha que certamente não aplicamos com perfeição os ensinamentos do livro.
Também vale a pena ouvir (em Inglês) a palestra de Ian Dunbar no TED:
A questão é que – e lamento falar mais uma vez em crenças e humanismo engordando ainda mais as palavras-chave ai do lado – a crença judaico-cristã de que a moral pode ser imposta pelo temor a Deus, ao inferno ou castigo está obsoleta. Precisamos de razíes humanistas para não cometermos crimes e respeitar os limites e necessidades dos outros, mas como fazer isso em uma sociedade espetacular (vide Guy Debord) e consumista marcada pelo individualismo?
Do último email que troquei com os amigos:
A medida sócio educativa ao meu ver passa por uma visão humanista que
mostre à criança e à família novos horizontes. Note-se que o pai
afirmou ter batido bastante no garoto, mas que isso não adiantou! Mas é
claro que adiantou! Mostrou a ele que tem razão quem é mais forte, mais
esperto e é o que ele está fazendo, se aproveitando dos outros. O
garoto é a maior vítima nessa história toda pois se encaminha para um
futuro curto e sem perspectivas.Não vejo caminho para nossa civilização através do uso da força,
vingança, castigo, raiva ou fundamentalismos que demonizam os
criminosos, não existem demônios, apenas humanos perturbados ou
confusos. Para os primeiros há tratamento psiquiátrio, para os outros –
a maioria – há a razão.O problema é que é difícil alimentar a razão em um mundo dividido
entre dois fortes movimentos fundamentalistas, ambos cristãos: o
protestantismo ocidental e o islamismo oriental…Vivemos um momento maravilhoso em que cada um de nós tem a chance de fazer algo
para conduzir nossa espécie para um mundo mais humano e esse caminho
começa pela não ação de Gandhi ou pelo amar ao próximo como eu vos
amei… Sim, há muito de bom e positivo na essência das religiões, mas
não no sequestro que foi feito pelos que se dizem cristãos hoje em
dia…
Num pas ‘srio’, haveria algum tipo de acompanhamento (assistncia social, psis, educadores etc) para o menino E a famlia. E obrigatria; a no pode ser participao voluntria. Alm de uma medida restritiva e educativa para criana e famlia.
Concordo que fora e violncia no resolvem. E, sim, num primeiro olhar, ele uma vtima da patologia familiar — est espelhando a violncia domstica, o abandono e a falta de ‘paternidade e maternidade’ que vive em casa. Os atos dele so apenas a ponta do iceberg. preciso tratar o que est por baixo. Na minha ‘modestssima’ opinio, essas questes passam em primeiro lugar pela orientao, educao e capacitao dos pais.
Mas a estou falando do ‘ideal’. E de um sistema srio e comprometido mais com a ‘cura’ do que com a punio por si s.
Criar filhos difcil, Roney… mas no impossvel fazer um trabalho decente, acredite. D trabalho, exige comprometimento, seriedade, amor, carinho, presena, responsabilidade e mais um monto de coisas.
Quando d certo muito bom!
Pas srio… Seria uma boa idia ver como isso funciona em pases srios, mas acontece que eu no sei de nenhum que seja srio nesse sentido… Algum na Europa deve ser…
Enquanto no mostram um modelo funcional eu fico com o exemplo de mes como voc que se alimentem de cultura e arte para repassar isso aos filhos: um universo de alternativas e possibilidades que os afastam da confuso desse perodo de transio que estamos atravessando.