Atenção, esse não é um comentário amargo, pessimista ou conformista, mas pode dar essa impressão…
Tenho plena consciência de que as nossas mobilizações aqui ou offline são inúteis em termos práticos. Que o desejo mais profundo de qq ser vivo, animal como nós, vegetal, fungo etc. é o prazer e querer consertar o mundo só é prazeroso para megalomaníacos, ou seja, a maioria está certa em querer curtir seu seu folhetim, game ou farra com outras pessoas…
Fico me perguntando se devia me empenhar menos nas causas que acho que nossa civilização devia estar priorizando:
- Um modelo civilizacional que colabore para manter o clima do planeta adequado às formas de vida atuais e que permita a todos a plena realização dos seus potenciais (ou seja, nada de miséria, trabalho infantil e mulheres castradas);
- Liberdade religiosa, e para isso é necessário que não aceitemos que nenhuma posição religiosa tenha poder sobre aqueles que não a seguem (isso inclui várias formas de ateísmo muito embora as ameaças mais sérias venham de teísmos) e que o discurso religioso não participe do governo incluindo escolas públicas. Usar o poder do estado a favor de uma religião é um dos maiores ataques possíveis à liberdade religiosa (e não, ciência não é religião);
- Colocar ao alcance de todos o conhecimento científico e, acima de tudo o pensamento científico que talvez seja o único instrumento capaz de nos unir a despeito das diferenças culturais e religiosas. Além disso a ciência é a principal força conduzindo a estrutura da nossa civilização e precisamos entender seu mecanismo para escolher sabiamente. Mas, acima de tudo, sem a metodologia científica nossas emoções transformam belas intuições em loucos dogmas (a maioria nem são religioso como, por exemplo, considerar o povo idiota);
- Defender os direitos das mulheres, gays e etnias vítimas de preconceito sendo esses os sintomas de uma dificuldade de empatia por condições perfeitamente naturais que não dependem de escolha. Transformar a intolerância contra esses grupos alimentando a admiração (tolerância não pois ela não passa de intolerância disfarçada) da nossa riqueza cultural e biológica é um passo decisivo para uma sociedade onde todos podem explorar seu potencial e serem respeitados. Os ataques a esses grupos são sintomas do mesmo mal que alimenta a intolerância religiosa e a guerra contra a ciência… Duas das principais ferramentas (se não as únicas) para construir uma civilização digna dessa classificação.
Mas será que eu não estaria fazendo mais por essas causas se falasse menos sobre elas?
Será que ao levar assuntos tão difíceis aos amigos não acabo por cansá-los fazendo desejar o repouso na alienação?
Seria mais eficaz voltar à abordagem sutil dos contos e crônicas que abordam esses temas muitas vezes sem que ninguém note a nível consciente?
É que tenho grande dificuldade em ver pessoas ferindo essas coisas que acho tão fundamentais e não responder clara e diretamente…
Bem… Seguirei refletindo pois agora a caminhada já terminou (escrevi isso voltando a pé de Ipanema a Copa com uma parada no mercado ainda há pouco) e tem amigos esperando para sairmos juntos… Não devo ser tão chato afinal, já que alguém me espera para sair ;-)
