Você usa seu cérebro ou seu cérebro usa vc?

Em setembro recebi um contato da agência de mídias sociais a serviço da Ediouro que viu o post que escrevi sobre o vídeo da neuroanatomista Jill Bolte Taylor no TED e resolveu me oferecer uma cópia do livro para comentá-lo. Isso é que é campanha inteligente de marketing social, afinal, se gostei do vídeo certamente gostaria do livro.

Você pode ver o hotsite do livro aqui: Jill Bolte Taylor, A cientista que curou o próprio cérebro. Também pode vê-lo no GoodReads: A cientista que curou o próprio cérebro.

Confesso que não gostei muito do título que me remeteu um pouco à auto-ajuda e preferiria algo mais próximo do original que seria mais ou menos “Meu ataque de inspiração: a jornada pessoal de uma cientista do cérebro”.

Digo isso logo no início do post para que o leitor averso à auto-ajuda não deixe de olhar esse livro atentamente.

Pode-se dizer que ele é dividido em duas partes.

Na primeira parte a cientista (até onde percebi bem cética do ponto de vista religioso) descreve como foi o seu derrame, a incrível experiência de se ver repentinamente com somente um hemisfério cerebral em funcionamento, e como foi sua recuperação.

Essa primeira parte contém alguns insights muito interessantes que nos levam a questionar a máxima tão comum de que “sou assim” ou “cachorro velho não aprende truque novo”. Mas ela será realmente útil para quem tiver que enfrentar um derrame, seja como vítima, seja como pessoa próxima a alguém que sofreu um derrame.

Se o livro fosse apenas isso a gente poderia se entregar à velha ilusão de que nada de ruim acontece conosco e que preferimos fazer de conta que essas coisas não existem pois do contrário ficamos nervosos… Bem, tenho certeza que nada de ruim vai me acontecer, mas faço questão de não viver sob o signo do medo e procuro me informar sobre tudo.

Acontece que o livro não acaba ai.

Os capítulos a partir do 14 deveriam ser lidos por todos os seres humanos que possuem tem um cérebro.

As 73 páginas finais do livro são uma cuidadosa, porem coloquial, descrição de como os hemisférios esquerdo e direito definem nossa personalidade juntamente com o nosso emocional e infantil complexo límbico.

Estou convencido de que os conhecimentos que Jill Bolte Taylor transmite nesse livro são ferramentas importantíssimas para desenvolvermos nossa consciência, personalidade e, porque não, nosso espírito.

Apesar dela adotar um discurso que algumas vezes parece quase religioso uma leitura atenta revelará que não se trata de religiosidade ou mesmo de espiritualidade, mas de uma tentativa (bem sucedida ao meu ver) de descrever experiências sintéticas em uma língua (a linguagem reside no hemisfério esquerdo junto com o pensamento analítico enquanto o pensamento sintético reside no hemisfério direito) que não está preparada para descrever esse tipo de experiência.

A neuro-anatomista afirma acreditar que ao compreender a dinâmica do funcionamento do nosso cérebro podemos criar uma civilização mais pacífica mais capaz de compaixão. Ela me convenceu totalmente e percebi que o vídeo dela no TED é uma sombra do que esse livro pode ser para cada um que tiver chance de lê-lo.