Uma menina supostamente foi morta ou atirada da janela em um suposto crime incomum e surpreendente.

Imediatamente o fato se transforma em notícia. Dezenas, centenas de jornais e revistas, milhares de blogs e sites repetem abjetamente cada detalhe, estampam cada gota de sangue e a audiência sádica se encharca na dor da pobre menina apressando-se em crucificar os pais, supostamente agentes do crime.

Crucificar foi uma escolha casual, será que estamos nos comportando muito diferente daquela outra horda que crucificou o fundador do que veio a se tornar a religião mais influente da atualidade? A nossa mídia é muito diferente de Pilatos?

É assim que vejo a mídia moderna e nossa atuação como consumidores dessas “notícias”.

Receio que esteja chamando de sádicos vários amigos meus.

Posso tentar me colocar em uma situação menos delicada diante deles afirmando que muitas vezes nos deixamos levar pelas loucuras coletivas e nos comportamos como preconceituosos, fascistas, fanáticos fundamentalistas e outras coisas estranhas “sem querer”.

É fácil ser levado pelo Zeitgeist e só os chatos com a semente da transgressão seguem caminhos diversos e talvez o já saudoso Clarke estivesse certo ao criar Alvin em A Cidade e as Estrelas: os transgressores são necessários para garantir nossa evolução e uma via de escape para os ciclos viciosos em que nossas neuroses coletivas nos prendem.

Gostaria de ver um mundo onde as tragédias individuais fossem tratadas com carinho e respeito e somente os eventos de interesse comum fossem realmente notícias.

Isso depende mais de nós que lemos e assistimos notícias do que de quem faz e muitas vezes só quer dinheiro e produz o que vende. Se não vender não produz mais.

Então, antes de crucificar a mídia pense se você não está negando o Messias pela segunda vez…