Todo mundo sabe… Ah! Isso é um problema desde o tempo da vovó Loloca!

Uma mentira repetida desde os tempos dos nossos tataravós acaba virando sabedoria popular.

Manga com leite, chá broxante, não pentear o cabelo durante a gravidez, a indiferença para os problemas dos outros.

Lembro bem de um texto, acho que do Dalton Trevisan, que retrata a triste história de uma morte anônima cercada de desconhecidos insensíveis.

Dalton não estava errado, a gente fica insensível sim. Aprendemos a considerar normais as aglomerações de pessoas ao redor dos caminhões de lixo em busca de comida (vejo sempre em Copacabana), gente morando na rua gelada e uma série de pequenos roubos consentidos que vão dos CDs aos joguinhos de computador. A gente se acostuma.

Apesar disso não posso concordar que somos insensíveis. A gente talvez seja até sensível demais e a aparente insensibilidade é uma defesa contra as doenças que nos parecem além das nossas possibilidades.

Ainda esses dias eu estava bebendo um suco quando escutei berros histéricos meio quarteirão adiante. Bem, fui lá ver.

Era uma cena que merecia uma crônica.

Um carro fechava a rua, era um carro caro. A porta do carona estava aberta e uma menina procurava se livrar do homem que tentava puxá-la para dentro. Dezenas de pessoas ao redor tentavam ajudar sem saber quem era o vilão, a menina ou o homem atrás do volante.

Sabe lá o que acontece dentro das famílias, mas o fato é que o sujeito era o pai e a menina a filha.

Quando cheguei lá as pessoas tentavam convencê-la a ir com o pai, mas a moça apenas gritava que queria a mãe e foi o que fizeram, ligaram para a mãe e eu voltei ao bar para terminar meu suco.

Uns 20 minutos mais tarde passei ali novamente. O pai tinha ido e a menina estava aos cuidados de quatro das pessoas que a ajudaram. Estavam esperando a mãe dela chegar.

Sim, é claro que há um pouco daquela curiosidade perversa de saber toda a história, mas o fato é que naqueles olhos que fitavam a moça havia preocupação genuína e desejo de ajudar.

No final das contas n?ó todos somos comunitários, queremos ajudar e só mesmo séculos de sabedorias caducas para nos convencer que somos mesquinhos e essencialmente egoístas.

Esse assunto merecia um post melhor… Não estou criativo hoje.