O chiado constante do roteador percorre a sala bem iluminada, ao longe um cão late no morro e de vez em quando a música do sino dos ventos na sala de cima vem lembrar que a madrugada já entra em sua primeira fase.

Nos últimos dias deixei de ir ao aniversário de uma amiga, a um excelente espetáculo de dança contemporânea e deixei outros trabalhos de lado para finalmente transferir todos os nossos sites para um novo hospedeiro. Agora está quase tudo feito, resta apenas uma pendência que não depende de mim e só me custará mais uns 15 minutos. Amanhã.

Agora é tarde e meus sentidos me levam para longe. Meus olhos fitam o monitor, mas minha mente repete “acho que foi” e, satisfeita pelo trabalho bem feito, segue à deriva entre devaneios e o planejamento para recuperar o tempo perdido nos outros trabalhos.

E lá no edifício vizinho um elevador claqueja e geme como um mendigo sofrendo de frio. Certamente leva alguém do calor solitário do seu apartamento para o frio repleto de luzes histéricas da noite carioca no início da primavera.