“Como vão colocar um filme daquele tamanho em um palco?”

 Chego à porta do teatro me espremendo entre as dezenas de pessoas acumuladas ali sem razão aparente, nem entram, nem saem. Olho ao redor tentando imaginar se há algo especial ali, mas até agora realmente nem imagino que estranha atração as escadas largas do Oi Casa Grande exerciam sobre a multidão. Estava mais curioso para ver o teatro por dentro e descobrir como conseguiriam colocar A Noviça Rebelde em um palco.

Foi inevitável lembrar da montagem de Sonhos de Uma Noite de Verão da Lucélia Santos.

Nossos lugares eram no balcão, a parte mais alta do teatro, que a propósito faz jus ao nome e é grande mesmo!

Sessenta Reais…

Vivo reclamando de peças que custam 30. A Noviça nos custaria 60 se não tivéssemos recebido convites, mas tenho que confessar logo que há excessões para toda regra. Com treze freiras, sete crianças, mordomo, capitão, noviça, Max, baronesa, nazistas e demais atores deve ter perto de trinta pessoas se revezando no palco. Isso sem falar no cenário… O valor é justo.

Chorei já aos 14 minutos, ri muitas vezes, me encantei com a qualidade do trabalho de cada um dos atores com destaque para a naturalidade da Kiara Sasso (faz a protagonista) e a atuação surpreendente de Fernando Eiras (no papel do tio Max).

O espetáculo é uma reprodução fiel do filme exceto por duas ou três músicas inseridas, sendo que uma delas eu achei um pouco mal encaixada, mas isso não prejudicou em nada o prazer que tivemos.

Descobri que algumas pessoas odeiam o filme e a história original. Imaginei que fosse por Maria (a noviça) ser uma mulher é moda antiga, mas vendo a peça me lembrei que não. Ela promove justamente uma ruptura no modelo machista vigente na época tornando-se parceira de igual para igual do capitão.

Pode-se dizer que a história é ingênua… Todas eram até o final da década de 80, não é mesmo?

A peça não é uma releitura, é uma reproduçã fiel como eu disse, no entanto, mesmo com a ingenuidade característica do século passado as ameaças aos direitos individuais são um tema atual.

No filme eram os nazistas, hoje é o vigilantismo e o cerco é liberdade de expressao como nos alerta o @caribé. Tenho motivos pessoais para me sensibilizar com isso.

A propósito os atores que fazem os nazistas fazem um trabalho tão bom que são vaiados nos agradecimentos até que arrancam dos braços as faixas com as suásticas e recebem um dos aplausos mais efusivos da plateia. O destaque fica com Cássio Pandolfi no papel de Herr Zeller.

Depois de uma semana difícil saí do espetáculo com energias renovadas e novas ideias e é isso que vale na arte: nos dar forças ou tocar nossa consciência.

Apesar de ter destacado alguns atores todos merecem uma demorada salva de palmas pelo excelente trabalho.

Agradeço aos amigos no Twitter que nos indicaram para receber um par de convites da produção.