Tem ideias que explodem e tomam o mundo antes que a gente tenha tempo de entender que raio de ideia é aquela. Tem muita cultura de consumo que é assim também. Coisas como Titanic e as Spice Girls. Coisas que poucos anos depois já não tem qualquer sentido.

O barulho bom é o que vem crescendo aos poucos até se instalar lá no fundo da nossa alma.

Imagino os artistas sinceros reunidos à noite para fazer sua arte se perguntando “Quem vai comprar o nosso barulho?”.

De uma forma ou de outra todo artista se pergunta quem vai apreciar sua arte, os que não pensam são menos artistas do que comerciantes e só querem mesmo é saber quantos vão comprar o barulho deles…

Ontem passei mais de uma hora sentado no Sérgio Porto (centro cultural no Humaitá-RJ) conferindo o barulho das Chicas no lançamento do seu CD “Quem vai comprar o nosso barulho?”.

É o primeiro CD de um grupo que começou uns 10 anos atrás, tropeçou, deu voltas, se reinventou lá umas 3 ou 4 vezes e certamente ainda terá que fazê-lo outras tantas.

Quem teve chance de escutar o quarteto se encantou e há muito que dizer sobre essas moças, principalmente sobre a presença de uma alma brasileira que permeia o pop-rock delas apontando talvez para uma retomada da nossa identidade musical um tanto perdida depois da influência da cultura de consumo globalizada.

Talvez para compensar a espera dos fãs elas produziram um CD bem acima do valor normal para produções independentes (R$30,00). O valor não é tão alto se levamos em consideração que além de 5 músicas delas tem também a presença de músicas de gente como Chico, Lenine e Marcelo Yuca e a qualidade da embalagem e encarte, mas me parece que seria sensato criar uma opção mais barata: preços altos estimulam a pirataria.

Fora isto trata-se de um bom CD que consegue ser equivalente aos comerciais do ponto de vista editorial e tem uma produção musical que preserva o espírito independente e, principalmente, a personalidade ímpar da banda.

Isadora Medella, Paula Leal, Amora Pera e Fernanda Gonzaga merecem os parabéns assim como a equipe que tornou o CD possível. Espero que tenham ainda uma longa trajetória de crescimento artístico pela frente e o que é ótimo possa nos surpreender a cada nova fase.