Foi a Vivi que me ensinou a ler livros de contos para conhecer novos autores muito embora eu tenha lido o volume 2 do Ficção de Polpa que foi um presente da Annie P Muller.

Esse é apenas o segundo livro de contos que leio esse ano, mas já tive a boa surpresa de descobrir que o conto que mais gostei é do mesmo autor que me chamou a atenção na coletânea Vapor Punk que até já comentei aqui no blog. É o último conto do livro, mas por conta disso vou começar a comentar por ele, ok?

Ah! Claro! Pode ler sem medo pois não faço spoiler, ok? Vou falar de cada conto apresentando só o tom dele e me esforçando ao máximo para não revelar nada que tire seu prazer de ir descobrindo as coisas por sua conta.

Pendão da Esperança – Flábio Medeiros Jr.
Foi o que mais me agradou em parte pelo ritmo que é dinâmico, mas principalmente pela criatividade da trama que me segurou e me surpreendeu no final.

Ganimedes – Hugo Vera
Uma trama de espionagem e conspiração em torno de Júpiter e suas luas. Os personagens são cativantes. Parece ser parte de um universo maior do autor, mas isso não atrapalha o entendimento da história.

Só achei que ele é um pouco prolixo sem necessidade.

Logan Marshall – Larissa Caruso
As mulheres mandaram bem nesse livro. É bom vê-las diluindo o sexismo em mais essa área, afinal algumas das pessoas mais nerds que eu conheço são mulheres. Esse foi outro dos meus contos preferidos da coletânea. Ele gira em torno de um investigador sarcástico e desajustado que nos lembra alguns detetives dos seriados de TV. Aliás vários pontos nos lembram de outros universos de ficção como Homens de Preto, mas a autora consegue fugir da falta de originalidade o tempo todo e me convenceu que se tratam de referências, homenagens.

Seu Momento de Glória – Marcelo Jacinto
Esse me chamou atenção pela construção de personagens sombrios em um futuro onde a boa sorte ainda é bem mais amarga que a maioria dos nossos dias ruins no mundo hoje. É o tipo de conto que pode te fazer colocar o livro de lado por um instante para pensar na vida.

Temos que Cumprir a Cota – Letícia Velásquez

A história talvez seja um pouco previsível dependendo da sua criatividade, mas o estilo narrativo me agradou e também aborda algumas facetas da natureza humana que temos que conhecer e enfrentar. Acredito que a boa ficção científica se volta para as questões morais do nosso tempo e, embora possa não ser uma associação imediata, essa história observa pelo menos três delas.

Tempo Instável – Jorge Luiz Calife
Tive a nítida impressão de que o autor estava romanceando um sonho que ele teve. É divertido, tem um certo clima daqueles quadrinhos scifi preto-e-brancos da década de 70.

Mádrax – Maria Helena Bandeira
É bem provável que você pense na Casa Atreides enquanto lê esse conto que leva para o espaço as tramas e costumes das cortes medievais, é uma mistura incomum e cativante que constrói um ambiente obscuro que dá certo tanto no futuro distante quando no passado (Game Of Thrones está aí para provar). Pela originalidade acho que estaria entre os meus três preferidos do livro.

A Esfera Dourada – Clinton Davisson
Outro que me remeteu ao estilo scifi de quadrinhos, mas dessa vez das grafic novels da década de 80 como Gilgamesh de Jim Starling. Pelo jeito o conto é um fragmento dentro de um universo bem mais vasto criado pelo autor o que deixa a leitura um pouco mais lenta, mas é um bom conto.

No Amor e na Guerra – Lodi-Ribeiro
É uma história de guerra no espaço, ela abre o livro com bastante ação estratégica e tecnológica com direito a romance e personagens lutando com seu lado sombrio (seja por insegurança ou por desespero). Poderia ser um episódio de Star Trek (e isso é um elogio).

Observações finais
É possível que eu esteja errado, falo como leitor e não como autoridade em scifi, mas algumas coisas comuns em vários dos contos me incomodaram um pouco:

  • O uso de formas rebuscadas de descrever um fato comum fazendo-o parecer estranho: em vez de “passou sobre a cratera traçando uma elipse” usar algo do tipo “A trajetória sub-translunar heliptiptcóide” (se é que heliptcóide existe). – esse não é um exemplo real, ok? Inventei agora.
  • Referências a sistemas de nome ou medida alienígenas que não fazem sentido para nós, como um registro de passagem do tempo.

Bem, na verdade pouca coisa me incomodou. Foi uma boa leitura.

Link no GoodReads: Space Opera: Odisseias Fantásticas Além da Fronteira Final.