Começando com o aviso de sempre: pode ler sem medo pois me esforço ao máximo para não revelar nada dos livros que comento que possa tirar sua graça de lê-lo.
Muitos autores modernos tem optado por um estilo mais imaturo e narrativas mais planas, talvez na tentativa de atingir um público maior (isso é assunto para outros posts), mas Neon Azul foi uma grata surpresa, principalmente pela estrutura narrativa que se move em espirais no espaço e no tempo apresentando o lugar, os personagens e as ligações entre eles num ritmo que nos deixa meio tontos. Ler Neon Azul é um pouco como beber absinto.
Esse é o tipo de obra que deve ser lida, não deve ser descrita, e pensei em parar no parágrafo acima, mas teria um pouco de preguiça nisso e de desrespeito aos mistérios do Neon Azul.
Sugiro ler em um final de semana ou quando tiver que passar umas cinco horas viajando de um lugar para o outro (o que equivale a uma ida e volta de avião para um estado mais distante ou um dia comum no metrô de uma grande metrópole) pois sua mente vai gostar de se ver envolvida pelas surpreendentes conexões entre fatos e pessoas que frequentam o misterioso bar, boate, inferninho e outras definições que poderia receber.
Definir o estilo do livro é uma tarefa complexa pois há algo nele de Neil Gaiman, um pouco de Conan Doyle (em alguns contos que poucos leram) e até de Borges, mas é diferente disso tudo. As descrições de fatos e devaneios se confundem, mas somos capazes de perceber quando isso está acontecendo e a leitura flui fácil desde que nos deixemos levar pelas imagens.
Talvez não seja uma obra para o grande público (apesar de eu achar que o grande público tem sido muito subestimado), mas estou certo que a maioria dos leitores assíduos vai adorar.
Ah! Certamente não é uma experiência para quem foge do mundo real ou se cerca de preconceitos pois ali estão refletidos diversos tipos que cruzam as ruas de grandes cidades. Todos me pareceram bons, mesmo os maus, ou pelo menos são tratados com respeito e não são reduzidos a estereótipos.
Crédito da imagem: Marti Green