Imagem: Material promocional

Vamos lá, certo? Sem spoilers, ou seja, sem entregar nada que estrague o prazer da leitura.

Tenho que começar me desculpando porque não gosto muito do Eco! Não me mate ainda! é só uma questão de gosto, ok? Não estou falando que ele é ruim.

Uma das coisas mais interessantes do Umberto Eco é o eruditismo dele. Em O Nome da Rosa (se não me falha a memória) tem parágrafos em latim.

Pois isso é o que não me impressiona nem um pouco e acho que é um tipo de filtro de leitor que afasta algumas pessoas que poderiam aproveitar a leitura dele, muito embora seja divertido dar uma pausa na leitura para pesquisar algumas das coisas mais importantes que ele nos apresenta.

Só que, se tem muita coisa desconhecida para o leitor pode até ficar difícil de entender o texto, mas não é o caso desse livro.

Em Número Zero tem longos trechos sobre a história da Itália na Segunda Guerra Mundial, mas dá para pegar o essencial sem ter que pesquisar.

Talvez esse seja até um livro pop do Eco.

E pode ser que ele tenha feito isso de propósito por achar que tinha algo importante para dizer.

O livro é um tipo de caricatura do jornalismo. Uma caricatura perturbadora pois notamos que nossa imprensa (e por nossa me refiro a “américas” e “europas”) frequentemente nos parece próxima demais da caricatura.

Acho importante contar isso sobre o livro (e não considero um spoiler) porque você pode ter um acesso de burrice como o meu e achar que o jornalismo é o pano de fundo para outra história, e não é.

Veja bem, os personagens são interessantes e tem mesmo outras histórias, mas o protagonista desse livro é o jornalismo e a política internacional. Isso é bem claro.

Fui lendo meio sem dar atenção a esses protagonistas e mais interessado nas vidas do Colonna e da Maia. Isso me fez demorar muito para gostar do livro.

Outro ponto que pode atrapalhar nós brasileiros é que talvez sejamos menos ingênuos que os europeus em relação aos jogos da mídia e do poder (econômico, político etc).

Para nós fica uma sensação de “tá bom… tá bom… já sei disso tudo.”

Mesmo assim é interessante ver essas coisas pelos olhos de um europeu com o status intelectual e cognitivo de Eco.

Nas últimas páginas do livro tem umas passagens que serão especialmente divertidas para latino americanos e vale a pena pesquisar os fatos que ele nos apresenta nesse final.

Quanto aos personagens eles tem uma textura de realidade que eu gostei muito. Realmente queria que eles tivessem mais espaço, que pudéssemos mergulhar mais fundo em suas memórias, traumas, expectativas, medos e camadas de complexidade.

Com certeza vale a leitura!