Imagem por Wakystuff: The man who wants to read and write must let the grass grow long (Cc)

Apenas uma coisa é mais preciosa que cultura: bons amigos.
(pensando melhor… tem um monte de coisa entre cultura e amigos, mas bons amigos fica no topo)

Ontem acho que irritei uma amiga com a minha forma de classificar livros e ela foi gentil de não brigar comigo em público, mas certamente voltaremos ao assunto e teremos chance de lapidar melhor nossas ideias.

Enquanto isso decidi desenvolver um pouco aqui para, eu mesmo, entender melhor como classifico livros.

O terreno é arenoso, nunca encontrei um consenso nem nos termos, nem nos critérios.

Tem gente que divide assim:

  • Pop: livros de lazer que evitam palavras rebuscadas, frases originais, parágrafos inesperados e seguem um padrão previsível de início, meio e fim. São obras fugazes criadas para atingir o máximo de pessoas.
  • Literatura: livros “de verdade” cujas palavras, frases, parágrafos e todo o ritmo da obra foram esculpidos de tal forma que temos prazer em ler mesmo que a história e personagens não sejam interessantes ou do nosso agrado.

Imagino que seja desnecessário dizer que essa classificação pertence aos que gostam do segundo item, certo?

Também há quem veja mais desse jeito:

  • Livros com histórias fortes e envolventes cujos personagens refletem, inspiram e transformam os leitores seja levando-os para outras vidas e lugares, seja mergulhando com eles em universos de emoções que não viveriam normalmente. São maravilhosamente escritos em uma linguagem fluida que não nos distrai de história com firulas arrogantes.
  • Livros clássicos em que a história não é tão importante quanto a forma de contá-las. A construção do texto (palavras, frases, parágrafos e teor geral) procuram ser complexos apresentando ao leitor um desfio tanto cultural quanto de imaginação.

Também está clara a preferência dos leitores acima.

Como você classifica? Tenho certeza de que há dezenas, talvez centenas de formas de classificar e provavelmente todas certas.

Bem, eu não classifico de nenhum dos jeitos acima.

Adoro a história esculpida, que deve ser lida lentamente tanto para absorver cada cena e sentimento, quanto para admirar como as palavras foram tecidas como se fossem coloridas e formassem a imagem de um crepúsculo repleto de matizes.

No entanto vejo isso em maior ou menor proporção em quase todo livro e acabo fazendo uma escala única de classificação indo de, digamos, 0 a 10 ou talvez de terrível a “Ahhh!” passando por razoável, bom, ótimo, excelente, foda e maravilhoso.

Ontem comentei que os livros mais populares na minha classificação chegam apenas a 8 de 10. Acima disso já seria o que  chamam de literatura ou de clássico.

No entanto, preste atenção, uma história pode tentar esculpir palavras e ser muito ruim, um 2. Acontece muito na minha opinião com textos filosóficos.

Na minha visão uma obra que outros chamariam de literatura ou clássico tem que ser tudo que o “pop” é e mais.

Tomando emprestado a lista da amiga que foi gentil de não colocar por terra todo meu raciocínio.

Coisa que uma história tem que ter:

  • Pontas bem amarradas
  • Personagens bem definidos
  • Ritmo equilibrado (entre tensão e alívio por exemplo)
  • Originalidade
  • Bem escrita

Acho que menos que isso nem vale a pena ler, a menos que traga algum conhecimento muito importante, como um mapa para um tesouro que você pode usar para comprar muitos livros bons.

Se eu estivesse lendo esse post eu estaria pensando duas coisas.

A primeira é que o cara (eu no caso) se acha o Arauto das Galáxias que escreve maravilhosamente. Errr… Na verdade não. Tenho senso crítico e percebo que posso melhorar muito o que eu escrevo. O que eu coloquei como mínimo aí acima não é nada fácil, mas, sabe? a gente escreve livros há mais de mil anos, acho que temos que fixar umas metas bem rígidas, não acha?

Outra coisa que eu estaria pensando é que, se essas coisas são o mínimo, então o que uma boa obra deve ter? E para ser ótima, excelente, inigualável?

Muito bem, se eu soubesse dizer antecipadamente o que torna uma obra inigualável eu estaria escrevendo essa obra ou ganhando muito dinheiro achando obras assim para indicar para editoras.

No entanto não é difícil saber o que temos que fazer para melhorar uma história, é só buscar o superlativo de cada coisa que uma história deve ter.

A gente pode ter, por exemplo, muitas pontas abertas e fechadas com perfeição. Neil Gaiman fez isso de forma ímpar em Sandman várias vezes.

Os personagens podem ser super realistas e cativantes em vez de apenas convincentes. Hummm… Noites Brancas de Dostoiévski? Tá, Hamlet de Shakespeare para ninguém me xingar :-)

Tem a metalinguagem que Machado de Assis usava muito, mas vemos também em Lemony Sniket (viu? pop pode ter essas coisas!).

Enfim, é mais ou menos assim que eu penso. Que uma história é uma combinação de:

  • trama interessante,
  • personagens cativantes e bem estruturados
  • narrativa bem construída
  • etc
  • jeito surpreendente de contar a história

O jeito surpreendente de contar a história pode tornar a leitura um pouco difícil para algumas pessoas então tudo bem usar só um pouco disso, mas é mais um elemento de uma história e, quanto mais usamos, melhor ela vai ficar.

Por isso, na minha humilde opinião, os livros que tem o tal estilo pop, ou seja, são escritos de uma forma bem fácil de ler, nunca passarão de um 8 de 10. Deixo o 9 e o 10 para os Machados de Assis, Antônio Torres, Jeffrey Eugenides da vida.