Imagem: Open up to imagination Ryan Hickox Cc

Então você senta diante do papel, da máquina de escrever, do computador ou segura seu tablet se preparando para escrever uma obra de ficção e aí pensa “como será o mundo onde a história vai acontecer?”.

Pois a escritora de livros infantis Kate Messner decidiu compartilhar o processo criativo dela justamente nessa situação apresentando uma lista de dicas que podem ser realmente úteis:

Como construir um mundo ficcional – Kate Messner

Só que…

Será que pensar em um mundo diferente e depois criar personagens e acontecimentos para ele é a única forma de construir uma história? Será que é ao menos a melhor forma?

Quando fiz o projeto Um Sábado, Um conto procurei usar um processo criativo para cada conto e explicar como ele funcionava (consegui nos 14 primeiros, depois passei a misturar intuitivamente).

A grande verdade é que cada um de nós tem as suas formas de encontrar criatividade e, além disso, a construção de uma história é uma combinação de método e criatividade.

A pessoa mais criativa pode iniciar aparentemente do nada, usando as imagens, personagens e situações que surgem em sua cabeça como se uma musa a assombrasse. Outras precisam criar todo um ambiente, escolher um tema e imaginar um mundo onde ele seria interessante ou pensar em um mundo diferente (algumas vezes apenas ligeiramente diferente do nosso) e ver o que pode acontecer.

Os dois caminhos são bons e, na verdade os dois normalmente se completarão.

A minha impressão é que o método de construir um mundo e depois buscar o que colocar nele funciona mais na produção de uma obra pop, construída para atender a demanda atual do mercado.

Por exemplo, histórias de dragão estão fazendo sucesso, então vamos pensar em um mundo com dragões.

Podemos nos informar sobre os mundos de dragões que já foram criados e tentar fazer alguma coisa ligeiramente diferente para que o nosso mundo tenha alguma originalidade.

É claro que posso estar errado nessa suposição e criar o mundo antes da história seja apenas o jeito ideal para algumas pessoas encontrarem inspiração.

Entretanto tenho forte convicção que uma boa história emana antes de boas personagens, situações ou ideias e que, só depois, elas definem o mundo onde acontecerão e não o contrário.

Talvez eu esteja apenas incomodado porque o vídeo pode dar a impressão de que o processo criativo é algo mecânico, estruturado, lógico e, bem, eu faço parte do grupo de pessoas que atribui um valor meio sagrado à criatividade bruta (é quase uma fé e não deve ser seguida com exagero como qualquer outra fé).

Nesse caso talvez o melhor objetivo para esse post seja dizer que cada um de nós terá os seus caminhos preferenciais e, inclusive, eles podem mudar dependendo da época da nossa vida ou até do nosso humor no período, ou das coisas que acontecerem ao nosso redor no dia.

As dicas do vídeo são muito boas, as 14 estratégias que usei nos primeiros contos do Um Sábado, Um Conto também e você certamente encontrará os seus próprios jeitos, o importante é não se “engessar” com atenção exagerada a técnicas ou fórmulas.

Em uma coisa os acadêmicos estão certos: conhecer várias técnicas é útil tanto para nos ajudar a tornar nossas histórias boas para outras pessoas além de nós quanto para que saibamos como violar as técnicas surpreendendo até nós mesmos.