Pode ler sem medo de spoilers. Vou comentar apenas o que você precisa saber para ter uma boa experiência com a leitura, ou decidir que não vale a pena ler. Também espero te ajudar a tirar um pouco mais da experiência.

A Última Festa é o livro de estréia de Lucy Foley, mas ela foi editora de ficção por muitos anos.

Isso resultou tanto em qualidades quanto em defeitos no livro, mas antes uma breve sinopse.

Um grupo de amigos dos tempos de faculdade, agora na faixa dos 30 e poucos anos, mantém a tradição de se encontrar por alguns dias no réveillon e dessa vez a viajem foi organizada por a mais nova integrante do grupo, namorada de um deles, mas alguém vai morrer por acidente ou assassinato.

Desde as primeiras páginas Lucy cria habilmente uma tensão que nos sugere fissuras entre os amigos e segredos sinistros nas histórias de vida dos funcionários da estância. O mistério também é habilmente mantido alternando capítulos que abordam antes de depois do que acontecerá nos poucos dias que eles passarão no belo, frio e solitário lugar. O suspense é mantido até as últimas páginas e consegue nos deixar em dívida se fomos ou não capazes de saber quem sofrerá o acidente e quem o causará, se for causado, e por quê.

Essas são ao mesmo tempo as qualidades e os defeitos da história: ela é muito bem executada, mas conseguimos sentir um checklist sendo seguido e as diversas técnicas de escrita criativa e fórmulas de construção de mistério sendo usadas.

Isso garante uma leitura fluida, a expectativa e boas horas de entretenimento, mas algumas pessoas — eu entre elas — quando sentimos que a história controla quem está escrevendo impondo algum ritmo ou desenvolvimento de personagem.

Não é nenhum demérito uma história não ter muitas pretensões além do entretenimento, mas vou defender essa pois, apesar de sentirmos que ela foi conduzida muito tecnicamente, tem alguns elementos que podem gerar reflexões interessantes.

A primeira coisa que vale a pena observar é o tipo de amizade que une o grupo. O que eles tem em comum, como se criam os laços de confiança e intimidade que nos faz lembrar que existem amizades que jamais vão muito além dos momentos de entretenimento, que não se constroem na troca de reflexões sobre os nossos processos de amadurecimento.

Tem outras duas características interessantes que não estou descobrindo como mencionar sem fazer spoiler, não da história, mas da construção e desenvolvimento das personagens. Vou ter que falar bem por alto senão eu mesmo posso não lembrar o que era em alguns anos.

As personalidades dos funcionários da estância tem várias camadas que praticamente os torna protagonistas.

Uma das personagens é praticamente um arquétipo e com um desenvolvimento… esclarecedor.

Photo by Fabian Mardi on Unsplash