Recebi mais uma vez um texto fazendo crer que a crueldade das nossas cantigas de ninar são parcialmente responsáveis pelo estado em que o Brasil está hoje.

Bem, isso não faz qualquer sentido. Primeiro que as nossas cantigas são quase todas importadas de Portugal e lá não está tão mal. Segundo que praticamente todas as culturas submetem suas crianças a terríveis cantigas e fábulas.

Apesar de estarmos à beira da era do conhecimento ainda temos uma tendência a receber e aceitar o que nos é “ensinado” pelos textos e opiniões que nos transmitem. É muito importante que nos perguntemos sempre “Será mesmo?” Ainda que faça muito sentido. É claro, quando alguém defende um ponto o faz com algum sentido e omite o que não faz sentido em sua teoria por desconhecimento ou má fé. Mas este post não é sobre com lidar com as informações no século da informação.

A questão é: As cantigas que falam sobre dor, medo, raiva, perda, decepção, preconceito e violência são ruins para as crianças?

Muita coisa do passado já não se aplica no presente, não há dúvida disso, mas criar um universo de fábulas e cantigas infantis que produzam a ilusão de um mundo de harmonia será o suficiente para que essas crianças dissolvam no futuro a entropia em que acreditamos viver? Duvido.

A minha opinião é que é saudável viver na fantasia as situações que viveremos um dia de verdade como a perda de um amigo para a morte, a rejeição no amor ou o preconceito. Mas não vamos ficar com a minha opinião apenas. Vou pesquisar alguns especialistas e colocar abaixo o link para artigos deles.

O que seria então um bom conto de fadas ou cantiga infantil moderna?

Bem, temos Stardust de Neil Gaiman, o Triste Fim do Menino Ostra e a Maldição da Moleira que são bons pontos para começar a refletir a respeito das boas histórias para crianças.

Eles ainda são terríveis em alguns aspectos, ainda lidam com realidades que nos incomodam, mas há um novo tom.

Em primeiro lugar são… menos infantis. Sim, apresente a uma criança de 8 anos as histórias ou mesmo desenhos que a geração anterior adorava nessa idade e elas em geral acharão tudo muito ingênuo. A quantidade exponencialmente maior de informação tem amadurecido nossas crianças muito mais rapidamente.

Em segundo lugar há princípios de moral hoje que eram imorais ontem e realmente há princípios de moral de ontem que são profundamente imorais hoje. Isso também deve mudar.

No entanto não devemos descartar o potencial dos contos de fadas, fábulas e cantigas de ninar como instrumento para preparar as crianças para o que elas inevitavelmente viverão no futuro.

Lembro bem do medo que tinha do boi da cara preta e como isso me ajudou a enfrentar o medo quando deparei com ele em situações reais.

Referências