Quando há crenças envolvidas em uma questão muros se erguem impedindo um raciocínio claro pois muitas vezes a crença vem acompanhada de uma certeza pré-concebida e inquestionável.
Nesse caso eu concordo com a parte “inquestionável” da afirmação de que abortar é ruim, errado, deve ser evitado a todo o custo. Duvido que alguém entre aqui para discordar de mim e dizer que aborto é lindo…
Por outro lado “a todo custo” para mim significa, por exemplo, o apoio financeiro, social e psicológico das mães que não desejam sua gravidez e dos seus filhos até que se tornem independentes.
A todo o custo jamais pode significar “impor as minhas crenças aos outros” e não vejo outro argumento além de crença para afirmar que um embrião é um indivíduo.
Estou falando em aborto novamente porque acabo de ler um artigo que mostra como podemos vir a ser proibidos por lei de fazer inseminação artificial e um outro sobre a articulação do Magisterium, digo, da Igreja Católica para fazer valer sua vontade nessa questão.
Faz um tempo que penso na questão do aborto, tenho vários amigos que são a favor de proibir as pessoas de o praticarem e entendo as suas razões que são fruto de almas nobres e sensíveis. Só tem uma coisa que não entendo… Qual é o interesse do Magisterium, desculpe, das Igrejas?
Raramente essas instituições são nobres como seus seguidores e o que as estimula é de ordem comercial. O que tem uma Igreja a ganhar com a proibição do aborto?
Duvido que elas estejam interessadas na continuação do aborto ilegal pois não há lucro nisso.
Hoje pela primeira vez me ocorreu que, se houver sucesso em proibir e impedir o aborto, teremos milhares, talvez milhões de famílias desestruturadas com pais que odeiam os filhos fruto de um estupro, que não tem estrutura emocional para cuidar de um filho deficiente ou que ficam espiritualmente enfraquecidos depois de serem obrigados a conduzir até o fim uma gravidez que levaria necessariamente a um natimorto.
Desestabilização emocional, familiar ou espiritual já é um bom negócio pois leva as pessoas a procurarem conforto e pagar dízimos….
pra mim essa uma questo complicada. moral e emocionalmente, pra mim, e dentro da minha realidade, o aborto uma coisa inconcebvel. mas acho que a soberania sobre o prprio corpo e a prpria vida uma coisa importantssima. no acredito que uma lei possa determinar se uma mulher, uma vez grvida, deve ter esse filho ou no. acho que a maternidade algo especial demais para ser forado, e acho isso porque sou me. sim, h opes, h adoo. ainda assim, me parece uma violncia obrigar uma mulher a gestar e parir um filho que ela no deseja. o porqu dessa gravidez outra discusso. a entram campanhas informativas, entra uma educao mais consciente e responsvel por parte dos pais, entram muitas coisas. proibir por causa da vontade de uma religio, acho uma violncia maior ainda, j que vivemos num Estado laico, e a f questo profundamente pessoal. o que cada um acredita, no cabe ao Estado determinar. outra questo aquela discusso econmico-social, nossa velha conhecida: a proibio do aborto por acaso impede que ele acontea? no, claro que no. mais uma vez, o poder aquisitivo que determina as opes que voc tem: grvidas endinheiradas praticam abortos em clnicas chiques, com acesso tecnologia mais moderna, sem riscos. grvidas carentes o praticam com curiosas, em clnicas precrias, correndo todo tipo de riscos. justo?
desculpe se me estendi demais. o assunto me move bastante.
um beijo!
Oi Renata! Sua visita sempre uma honra!
Este assunto to srio e complicado que, por mais que a gente escreva, no d para dizer que nos estendemos demais, n?
Influenciados pelas emoes acabamos no conseguindo raciocinar direito, mas tenho certeza de que os indivduos de ambos os “lados” so radicalmente contra o aborto e agem movidos estritamente por bons valores ticos.
O problema que, arrisco supor, h uma outra inteno agindo por baixo da questo central: a disputa entre o estado laico e grupos fundamentalistas religiosos…
Se o discurso anti-aborto fosse livre de razes religiosas, se ele inclusse a mobilizao de trabalho e recursos financeiros de todos os grupos envolvidos para poder instruir e acolher as mes e os filhos eu me juntaria a eles. No o que vejo.
O que vejo a tentativa de impor por lei uma crena e nenhuma preocupao real com cada mulher grvida e seus filhos que, alm de uma gestao indesejvel, tero que se tornar criminosas ou ceder.