Desde que me lembro, lá no final da década de 60, o Natal significava que eu era especial e que Papai Noel viria me dar presentes.

Até meus 5 anos meu pai se vestia com barba, roupa de cetim vermelho, grandes coturnos pretos, um gorro e carregava um grande saco de presentes.

Estávamos em plena ditadura e ainda sobre forte influência dos valores da guerra então não é surpreendente que um dos presentes que mais me marcaram tenha sido uma metralhadora de brinquedo.

Mesmo depois que descobri que o Papai Noel era meu pai (ele esqueceu de tirar os óculos… E você achava ridículo as pessoas não reconhecerem o Super Homem só por causa dos óculos?) ele continuou se vestindo. Creio que, em vez de achar que Papai Noel não existia, achei que eu era tão especial que o MEU pai era o Papai Noel! Gente, me perdoem, tá? Eu tinha 5 anos!

Foi aos 11 anos, creio, que meu pai se fantasiou por uma das últimas vezes. Há muito tempo já não havia magia no Natal e eu só achava a tradição legal porque ela concedia um pouco de magia aos mais jovens ou mais ingênuos.

Com o tempo fui percebendo que o Natal da maioria das pessoas que eu conhecia era uma desculpa para beber, comer e mimar seus filhos, fazê-los se sentir importantes para o mundo. Poucas famílias investiam na magia como meu pai fez durante 11 anos. Ele queria a minha alegria, ver meus olhos brilhando diante de um ser sobrenatural.

Hoje, aos 44 anos, sou quase um Grinch. Estou desiludido com o Natal (apesar da minha mensagem de natal de 2009) pois a festa me parece esvaziada de significado e, certamente, há pouco ou nada de religioso nela.

Mas, ora! Não ter nada de religioso pode ser justamente uma qualidade!

Perguntei a uns poucos amigos que aturaram meus questionamentos justo na noite de Natal e talvez eles estejam certos: Desejar feliz Natal é desejar que os laços familiares se fortaleçam e que, pelo menos nesse dia, tenhamos paz e alegria.

São bons desejos e seria monstruoso sabotar esse desejo. Estou errado! Digo estou porque continuo não conseguindo me irmanar a esse sentimento com mais intensidade do que de costume.

Ao menos quero dizer em minha defesa que sempre desejo que as pessoas estreitem seus laços familiares (ou de amizade para quem não tem família) e encontrem em suas consciências paz e felicidade (alegria sempre me soa como algo fugaz, superficial).

Mais cedo tuitei que espero que o Natal seja uma oportunidade de reflexão que se estenda por todos os dias até o próximo Natal, mas vou mudar meus votos, afinal quem sou eu para dizer o que é melhor para cada um? Talvez o Natal seja uma maravilhosa, necessária e saudável oportunidade para esquecer da realidade e viver uma noite de magia onde nada mais existe além do amor, da beleza, seres mágicos, felicidade, prosperidade…

Seja como for seu Natal, que seja muito bom para você!