Acabo sempre voltando ao tema religião… Mesmo tendo escrito exaustivamente sobre isso aqui mesmo em uma série de posts ;-)

Sou humanista, ou seja, não me parece importante inserir deuses na equação da consciência humana, mas algumas das pessoas que mais respeito são especiais justamente pela forma que se relacionam com a sua fé e recentemente vi um convide da @aevangelista para comentarmos a difícil comunicação entre ateus e “teus” no seu post A Sabedoria de Deus é loucura para os homens (a da ciência também, a propósito).

Aqui está o meu comentário que achei que, pela extensão, precisava virar post:

É necessário ser muito cuidadoso com as pessoas pois nós humanos (aliás, toda forma de consciência) merece o mais profundo respeito, mesmo que discordemos diametralmente das expressões dessa consciência.

Vim deixar meu comentário aqui porque posso facilmente ser visto como um ativista ateu ou anti-religioso, mas na verdade sou um ativista da consciência livre e sinto que a Evangelista também ?.

Em todo caso, minha posição e as minhas ideias a respeito de deuses e religiões devem ser expressas aqui com muito carinho. Espero que todos entendam que, ao me colocar contra certas ideias, não me coloco contra as pessoas.

Bem, até pouco tempo eu me declarava como tecnicamente ateu pois não vejo razão para crer que o Universo foi criado por uma divindade, que alguma divindade ouça nossas orações ou cuide de nós.

Estou parando de me definir assim pois a palavra ateu está sendo usada para definir quem tem certeza que não existem deuses. Não acho que nosso conhecimento atual nos permita fazer essa declaração.

O máximo que podemos dizer é que os deuses que possam existam não fazem questão de se mostrar para a humanidade preferindo que cada um encontre sua própria fé.

A fé do bom ateu é na humanidade, é no amadurecimento da nossa consciência no sentido de agirmos de forma moral porque é lógico e não porque algum deus nos ameaça com o inferno ou nos seduz com a promessa do céu.

A fé do bom cristão (fui profundamente cristão desde os 4 anos quando conheci uma freira especial até me decepcionar aos 11 ao fazer primeira comunhão) me parece ser em um Deus pronto a compartilhar com ele a sabedoria que não pode obter sozinho (nenhum de nós, crentes ou descrentes pode).

Algumas das pessoas que mais admiro e considero mais sábias são religiosas como Ghandi, Frei Betto, Dalai Lama, Leonardo Boff e alguns amigos que são especiais justamente por sua relação com sua religião.

Entretanto há facetas negras negativas nas religiões.

Talvez a pior de todas, e que mais incomoda os ateus, seja a arrogância de crer que já sabe qual é a verdade absoluta, o Deus verdadeiro. E tudo piora quando quem não vê a mesma verdade é demonizado….

Os bons cristãos (católicos, protestantes, islâmicos), budistas, taoistas, wicca, esotéricos não são assim, são pessoas procurando desenvolver cada vez mais suas consciências para tentar ter uma visão melhor de Deus.

Os ateus também… Só que eles não creem em um deus místico, eles creem na consciência.

Talvez no final não seja muito diferente, mas se torna no momento que um grupo usa a lógica para comprovar o que não temos tecnologia para comprovar (a inexistência de deuses) enquanto os outros tentam usar suas experiências subjetivas no sentido contrário.

É uma fonte inesgotável de conflito.

Há de haver humildade.

De um lado a dos materialistas, deistas ou ateus que devem entender que, na ausência de provas a favor ou contra, todos devem ter direito a seus próprios postulados.

De outro a dos que creem que devem entender que a fé é uma experiência pessoal que deve reger a nossa concepção do mundo, a nossa moral, e não a dos outros. Usar a fé, nossos deuses e religiões para impor a nossa cultura aos outros é um ato de violência.

A arrogância (que atinge os dois grupos, é bom lembrar) é a raiz dos conflitos que contaminam até as relações entre cristãos e, enquanto estivermos engajados em impor a nossa razão (ateista ou “teista”), perderemos de vista a razão em sua acepção pura.

Ao nos agarrar na razão rígida e imutável assumimos uma postura que não é nem evolutiva, nem criacionista, mas involucionista já que temos certeza que a visão correta de Deus é aquela de quem viveu há 5 mil anos…. No mínimo estamos estagnados. Vale lembrar que esse é um fenômeno humano afinal há um certo consenso de que nunca haverá outro Shakespeare. Só na física há um pouco de desenvolvimento, mas não sem resitências selvagens.

Respondendo à Evangelista, eu creio que o evangelismo proativo (incluindo o ateu) é um caminho contaminado pela arrogância… Não lembro nenhum grande humano ter dito para impormos nossas crenças a outros humanos, nem mesmo Cristo.

Será que os cristãos do segmento x, divisão y, categoria k do bairro h são superiores aos do bairro q e só eles entenderam Deus?

Parece-me claro que, se há um ou mais deuses, cada um de nós, cada cultura humana, vê ou escolhe ver algumas das suas características.

Uns preferem seu ombro amigo onde podem depositar seus sonhos e projetos, outros preferem o braço forte para ajudá-los em suas difíceis missões de vida, poetas preferem tentar entrever seus olhos misteriosos cheios de sabedoria.

Essas escolhas são feitas de acordo com as nossas necessidades pessoais e aqueles com necessidades similares se juntarão a nós em nossas crenças ou razões. Não faz sentido impor a todos os humanos a mesma cultura.

A minha opinião é que o evangelismo passivo (incluindo o ateu) é o caminho.

Permitir que nossa visão de mundo altere profunda e constantemente a nossa consciência nos transforma em faróis brilhando com as cores e ritmos adequados para atrair nossos irmãos de fé ou de razão.

O problema é quando um grupo quer impor a sua consciência a todos os outros. Por isso defendo que não haja interferência religiosa na política e no ensino ou que haja interfêrencia completa apresentando-se as razões e contra razões de cada religião.

Fora isso há vários desafios dentro da própria forma de ler e interpretar os livros sagrados afinal é ridículo querer impor pela fé que a Terra é um disco apoiado sobre 4 elefantes que estão sobre uma tartaruga cósmica conforme está descrito nas crenças indus.

Da mesma forma minha avó morreu jurando que os homens tinham uma costela a menos que as mulheres pois ela foi tirada para fazer Eva. Não adiantava mostrar um esqueleto para ela pois sua fé era maior que sua razão (era mais uma pessoa profundamente boa que sempre admirei).

Na minha opinião os religiosos precisam deixar de ver seus livros sagrados como livros de física, química, antropologia e história passando a buscar neles o significado moral, a mensagem que eles trazem para nossa consciência e não para a nossa razão. Do contrário se tornará cada vez mais difícil argumentar com quem se baseia em fatos e ciência.

Afinal de contas qual é o ponto importante? Quantas costelas temos? Se fomos feitos de barro? Se o Universo existe há 6.485 anos? Ou a questão é o que vamos dizer para o outro humano que chega até nós precisando de uma palavra de conforto ou de motivação?

Estou enrolando por quatro parágrafos, mas acho que é necessário dizer… Desapeguem-se da Bíblia. Ou pelo menos lembrem-se que Jesus Cristo veio também para revelar que a palavra de Deus está escrita no coração dos humanos… Por isso ele pôde transformar as leis antigas convidando quem não tinha qualquer pecado a apedrejar a adúltera… E com isso aboliu uma lei bíblica.

Foi Cristo também que disse que edificaria sua Igreja sobre Pedro, o homem comum e de coração puro e sincero. Cristo não deixou uma Bíblia, não precisamos dela para encontrar ou provar a existência de Deus, Espírito ou consciência, isso está escrito em cada pequeno fragmento do Universo onde encontramos pela fé ou pela razão, maravilhas sem fim!