Lá no FB me disseram:

Mitos, fábulas, contos de fadas têm a função de estruturar a o espírito humano para as situações da vida, com certeza. Mas novela??? Me parece mais um recurso para não se ocupar da própria vida e ficar na aba da vida alheia. Não identifico nenhum aspecto pedagógico nos dramas e nas comédias. O que as pessoas aprenderam na novela que acabou?

Me empolguei na resposta e achei que valia a pena salvar do buraco negro do Facebook…

Mas novela é igual a qq outro tipo de drama. E a maioria não ensina nada mesmo, só distrai, dá assunto para as pessoas se encontrarem. O que Friends ensinava, por exemplo? É claro que qq coisa passa alguma ideia, reflete nossa cultura de alguma forma.

Close to Home por exemplo está embebido na paranóia norte americana com o medo do próximo. Não assisto e acho negativo alimentar isso.

Tem obras que assumem missões claras de passar ideias como Babylon 5 e sua cruzada contra o maniqueísmo ou Battlestar Galactica e o retrato cru do nosso egoísmo.

Obras que mobilizam sociedades inteiras certamente tem algo de especial como é com Doctor Who na Inglaterra ou as novelas no Brasil. Para quem se interessa pelo funcionamento da sociedade vale a pena tentar entender o significado disso.

Em primeiro lugar temos a necessidade de objetos culturais comuns para unir a sociedade. Isso quem escolhe, em grande parte, é a mente coletiva da própria sociedade: qual é o assunto que posso ter com todos, do jovem alienado das classes AB até o agricultor que mal sabe escrever?

Infelizmente o que é capaz de agradar a quase todos não é o estudo de ciência ou filosofia… Eu adoraria… É futebol e novela.

E essa novela? Por que mobilizou tanto o Brasil?

Francamente, não sei… Se soubesse seria pelo menos consultor de romancistas.

Sei que o centro da trama estava em uma família de pessoas puras e genuínas que se vê entre duas mulheres que levam para seu lar o veneno da ganância, da vingança, da mentira e tramas malignas.

Talvez o sucesso tenha a ver com o desejo da sociedade de se livrar dessas coisas ou do medo individual de cada um de nós abrigar esses sentimentos…

Há obras que podemos considerar negativas, mas essa, francamente, achei positiva. Ela dilui o maniqueísmo, insere muito timidamente a questão da homossexualidade (no casal triplo de um dos núcleos cômicos) e, principalmente, tem protagonistas que se destacam pela personalidade simples e transparente, tirando as duas vilãs que sofrem por não conseguir essa pureza de espírito… E meio que a conquistam magicamente no último episódio, mas quem sabe isso também não acaba sendo positivo ao sugerir ao espectador que, não importa o quanto ele tenha sido mesquinho, mudar pode ser muito fácil, basta ter empatia, se colocar no lugar do outro…

Haveria muito mais a falar sobre essa novela, do papel central da classe C, da crítica ao estilo gangnam (será que uma tendência global?), dos casais mais complexos que já não se resumem a menino e menina, do retrato de realidades que costumamos ignorar como catadores de lixo e o fortalecimento das mulheres sem falar, claro nos aspectos negativos que sempre podemos encontrar.

Vou deixar aqui outro artigo, meio ufanista, mas muito interessante:
Avenida Brasil mudou as novelas

Imagem: blog da Heloísa Tolipan