Somente hoje assisti Marie Antoinette da Sofia Coppola com Kirsten Dunst no papel principal.

Confesso que não conheço bem a biografia de Marie Antoinette e portanto não sei se sua representação como uma adolescente perdida entre os excessivos rituais da corte francesa que procura compensação em exageros é válida, no entanto parece que foi isso que causou as vaias quando o filme estreou em Cannes.

No entanto preferi esquecer o fato histórico e me deixar levar pela direção delicada da Sofia (que me agradou muito tanto em Virgens Suicidas quanto em Lost in translation).

Há um tema recorrente nos três longa-metragem de Sofia Coppola: a nossa fragilidade diante da tensão entre o espírito que nos anima e a realidade, a delirante realidade, imposta pelo mundo que pouco tem de real.

Em Marie Antoinette há mesmo uma citação explícita ao humano natural de Rousseau.

A trilha sonora rica em músicas contemporâneas ao meu ver completam o elo de ligação perfeitamente interpretado por Kirsten Dunst que consegue manter uma paradoxal dicotomia entre o medieval e contemporâneo. Há nela tanto o peso da moral do fim da monarquia quanto os trejeitos de uma adolescente moderna.

Isso tudo pode ter sido visto simplesmente como uma tentativa fracassada de criar uma história “moderninha” de Marie Antoinette, mas não foi assim que vi.

Prefiro ver no filme um espelho dos nossos conflitos atuais, uma sociedade dividida entre jovens alienados pelo poder sedutor da modernidade e uma horda de populares de onde saem recursos para sustentar um tipo de sociedade do espetáculo (no sentido de Guy Debord).

Há momentos históricos críticos em que devemos converter todos os nossos esforços para mudar, entender e mudar, o nosso próprio tempo. É isso que eu creio que a Sofia Coppola tem tentado fazer e rendo-lhe aplausos! A ela e Kirsten Dunst cuja ira depois das vaias em Cannes pode ser sinal de que ela pensava algo semelhante sobre o filme.

Em tempo…

O filme é baseado na biografia escrita por Antonia Fraser e publicada pela Record.