Imagem: Material promocional

Pode ler sem medo de spoilers (não vou entregar nada que estrague as surpresas do filme).

Logo no começo um dos personagens afirma que as pessoas escutam o que querem ouvir. Não é uma cena importante, está mais para uma piada sem grandes subtextos, mas é algo que pode acontecer com esse filme.

Podemos facilmente assumir que estamos diante de mais uma comédia romântica com mulheres atrás de homens canalhas e um final moralista onde os personagens feitos para gostarmos deles terminam se purificando da vida hedonista e formam uma família tradicional.

Não estou dizendo que isso não acontece, ok? Estou dizendo que o trailer e o primeiro terço do filme podem facilmente nos sintonizar nesse viés e nos cegar para uma diversidade de sutilezas.

Veja o trailer:

Então, antes de mais nada o filme é MUITO engraçado com alguns momentos de comoção que podem até lhe arrancar algumas lágrimas, mas lágrimas mais felizes que tristes. É uma história feita para nos colocar diante de uma visão positiva do mundo.

No entanto você deve resistir a todas as expectativas e prestar realmente atenção aos personagens abstraindo inclusive que alguns dos atores não estão lá tão convincentes.

Se você fizer isso perceberá estar diante de pessoas de verdade, sinfonias de sentimentos, buscas e expectativas que se aproximam muito daquilo que passamos em nossas vidas quando não fugimos das nossas vidas.

Ainda no primeiro quarto do filme desconfiei que os personagens eram reais demais para terem nascido no filme e realmente há um livro em que o filme se baseou, mas a resenha é absurdamente diferente. O título é o mesmo do filme, Como Ser Solteira – Liz Tuccillo (tradução de Alda Lima).

No entanto esse realismo dos personagens não é completo, ainda há uma forte caricatura, inclusive na direção de fotografia e uso da luz, mas assim mesmo vi camadas suficientes para fazer dessa obra uma dessas raras que nos colocam em sintonia com a vida.

Acompanhar o tortuoso caminho de cada uma das pessoas ali, em dúvida sobre a natureza da futilidade ou profundidade, autoestima ou auto-comiseração, segurança ou insegurança, independência ou dependência, sinceridade ou falsidade e um pouco de tudo isso em cada um deles é uma jornada interessante de observação sobre nós mesmos, nossos relacionamentos e amizades.

É bem provável que você tenha dificuldade em ver o que estou apontando no filme, não por não estar lá, não por eu estar vendo demais e definitivamente não por uma incapacidade sua.

A questão é que ele foi feito para entreter, talvez essa sutileza toda que vi seja apenas um acidente; fruto de uma criação influenciada pelos ventos do nosso século fluido e… Aliás é isso, esse é um filme com personalidades e histórias fluidas que podemos perceber de várias formas e nos causar um pequeno (pequeno, ok? Não estamos falando aqui e uma obra de primeira ordem) turbilhão de sentimentos e associações.

Vá assistir de mente (e coração) abertos.