Antes de mais nada: pode ler o post antes de assistir porque não farei spoilers.

A sinopse informa que se trata de uma jovem que mora sozinha em uma grande casa que fica em uma pequena cidade que a despreza. Como se não bastasse ela terá que lidar com invasores alienígenas.

No entanto acho que precisamos de mais algumas informações para decidir assistir ou não o filme.

Em primeiro lugar trata-se do tipo de terror em que o terror em si é o pano de fundo para contar outra história e para nos levar a certas reflexões. Não o tipo de reflexão que transforma nossa forma de ver o mundo… bem… talvez, mas o mais provável que que te faça pensar em algumas qualidades humanas como resiliência, cultura do cancelamento, redenção… Vou parar a lista aqui por dois motivos: ela pode variar por pessoa e acho que acabaria sendo um pouco de spoiler.

Outra coisa que temos que saber é que não há diálogos no filme. A protagonista diz apenas uma frase e um “came on!” a certa altura. No entanto de forma alguma o filme se torna enfadonho ou difícil de compreender graças a boas atuações roteiro e edição.

Na verdade a ausência de diálogo não só aumenta a tensão como torna muito mais fortes as emoções que são trocadas nos poucos momentos onde um diálogo poderia fazer falta.

Vou deixar nesse parágrafo aqui, meio escondido no meio do texto, o único “defeito” que achei no filme: os aliens são meio inverossímeis. Não na aparência, que é o padrão, mas no comportamento. Isso pode deixar uma sensação de que a história toda é um tipo de delírio. Não é. O único momento de delírio é destacado com muita clareza. Mais sobre isso nos links no final.

Aliás… A história acaba tendo um certo clima de conto de fadas, o que só percebi agora e me agrada porque reforça sua camada introspectiva e o torna mais verossímil ao deslizar um pouco para esse universo.

Um dos motivos para não fazer spoiler é que isso não é possível: apesar da história ser bem clara ela servirá de alegoria para uma diversidade de reflexões de acordo com a sua própria experiência e lugar na sociedade. Vou colocar uma interpretação ou outra nos links ao final. A minha? A minha é que a história me inspira a admirar a humanidade hehehehe! O porquê eu não digo ;-P

É muito comum fazerem filmes com interpretações abertas, mas de uma forma desonesta, artificial. Não suporto isso, mas não é o caso desse. Por exemplo, o script tem vários diálogos que não acontecem em palavras no filme, ou seja, existe uma interpretação “correta” que, segundo o próprio diretor, ele está completamente disposto a abrir mão, afinal o filme pertence à audiência agora. Tem link lá embaixo para uma entrevista com ele também.

Alguns elementos de cenário como fotos ajudam a conhecer a história da personagem e definitivamente não é um desses filmes que irritam por serem difíceis ou mesmo impossíveis de entender. Tudo que precisamos saber está lá. O que não teríamos como saber, e nem a protagonista, deve ficar assim, apesar de podermos formar ótimas hipóteses ainda que não seja necessário para tirar o melhor proveito da história.

Tivemos uma onda de filmes silenciosos, mas a razão do silêncio nesse me pareceu não apenas coerente, mas necessária. Acrescenta significado e densidade ao filme além de, com certeza, provocar identificação em muita gente que sente que falar em sua situação é inútil.

Conclusão (tenho pressa, assisto ou não?)

Trata-se de um bom thriller mais de suspense do que de terror. A ausência de diálogos e uma certa estranheza nos aliens pode desagradar quem prefere filmes mais convencionais, mas deve ser bem estimulante para as pessoas que curtem surpresas narrativas e alguma originalidade, mesmo considerando que tivemos uma leva de filmes em silêncio, mas esse tem suas próprias razões e achei convincentes.

Links

Photo: Sam Lothridge/20th Century Studios